Título: Envolvidos citam Renan Calheiros e Teotônio
Autor: Batista, Henrique Gomes e Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 21/05/2007, O País, p. 5

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Empreiteira teria recorrido a políticos do estado para liberar dinheiro para canal.

Presidente do Senado e governador de Alagoas teriam pressionado por verba para obra da Gautama no estado.

BRASÍLIA. As gravações feitas pela Polícia Federal com autorização judicial revelam ainda que a empresa Gautama, acusada de comandar esquema de corrupção com desvio de dinheiro público, teria recorrido a políticos de Alagoas para liberar recursos para as obras de construção de canais em Pratagy. Segundo o relatório da PF enviado ao Superior Tribunal de Justiça, os integrantes da suposta quadrilha citam o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e o governador Teotônio Vilela Filho (PSDB).

Zuleido diz, segundo a PF, que obra "é do Téo"

Em uma conversa telefônica, Zuleido Veras, dono da Gautama e que foi preso semana passada na Operação Navalha, afirma que a liberação dos recursos tem que sair e que pode ser dito que a obra "é do Téo", apelido de Teotônio Vilela. Em outro trecho, segundo a PF, Zuleido fica satisfeito quando é informado que tanto Renan quanto o governador ligaram para pedir a liberação de verbas para a obra:

- Ele (Paulo Pimentel, subsecretário de Fazenda de Alagoas) disse: "Não, vai liberar hoje porque ligou metade do estado pra Cheba (apelido de Henrique Araújo Ferreira, à época, Secretário da Fazenda de Alagoas)". Seu chefe mobilizou todo mundo aí. Aí citou o nome de todo mundo, quem tinha ligado pra Cheba cobrando, tá certo? - diz Bolivar Ribeiro Saback (funcionário-lobista da Gautama), numa das conversas com Zuleido.

- Quem foi? - pergunta Zuleido Veras.

- Téo (Teotônio Villela), Renan (Calheiros)... Segundo ele... Você mobilizou esse pessoal todo? - pergunta Bolivar, pouco antes de a ligação cair.

Referências ao "chefe" e ao "chefe maior"

Em outras gravações citadas no relatório, há referência ao "chefe" e ao "chefe maior". A PF investiga quem seriam essas pessoas, que podem ser os mentores do esquema fraudulento. Há ainda uma ligação que marca, em março deste ano, uma reunião entre Zuleido e o representante de Alagoas em Brasília, Enéas Alencastro Neto, no escritório de um senador em Maceió.

A assessoria do governador de Alagoas afirmou ontem que Teotônio é o maior interessado nas investigações. O assessor de disse que todas as medidas contra os servidores envolvidos já foram tomadas e que o governador não pode impedir que pessoas utilizem seu nome, à sua revelia, em conversas.

Renan afirmou, por meio de sua assessoria, que não vai comentar os detalhes das gravações em que é citado pois não teve acesso ao documento. O assessor lembrou, entretanto, que Renan afirmou que sempre pediu e sempre pedirá liberação de verbas para Alagoas, pois isso é legítimo e faz parte da atuação parlamentar. Ele disse ainda que Renan possui cartas do atual e do ex-governador do estado pedindo ajuda para liberar recursos para as obras de Pratagy.

PF: Zuleido viajou com R$145 mil para propinas

O relatório da Polícia Federal mostra ainda que foi registrado, em gravações telefônicas e por fotos de agentes, como Zuleido levou R$145 mil em propina para Maceió. Segundo a PF, o presidente da Gautama, em 9 de março deste ano, recebeu no aeroporto de Salvador uma maleta de Florêncio Brito Vieira, seu funcionário. Florêncio retirou o dinheiro de uma agência do Banco do Brasil no Shopping Iguatemi de Salvador. Zuleido embarcou com o dinheiro calmamente para Maceió.

As investigações da PF indicam que a obra de Pratagy tinha alguns problemas estruturais - o que dificultava a liberação de recursos - e que grupos diferentes de servidores do governo estadual começaram a brigar entre si para disputar a propina.

O esquema de corrupção, que teria sido descoberto pela PF em 2006, continuou em 2007, no novo governo estadual de Alagoas. Em uma das conversas mais recentes, de março deste ano, Zuleido começa a comemorar um novo esquema de corrupção que poderia ser feito a partir de uma nova obra: a construção de alças de acesso na duplicação da BR-101. Essa obra é considerada prioritária pelo governo federal e parte dela é tocada pelo Exército.