Título: Navalha atinge também dirigente da PF
Autor:
Fonte: O Globo, 21/05/2007, O País, p. 8

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Relatório também acusa juiz da Bahia de alertar investigados sobre apuração de corrupção.

Vice-diretor da instituição, Zulmar Pimentel é acusado de vazar investigações contra delegados.

BRASÍLIA. Relatório reservado da Divisão de Contra-Inteligência da Polícia Federal sobre a Operação Navalha acusa o vice-diretor da instituição, Zulmar Pimentel, de vazar informações sigilosas e comprometer as investigações sobre o envolvimento de colegas de corporação com esquemas de contrabando e corrupção. Entre os investigados estavam o atual secretário de Segurança Pública da Bahia, Paulo Bezerra, e o superintendente da PF no estado, César Nunes, além dos delegados João Batista Paiva Santana e Rubem Patury. Essa investigação, em que o nome do empreiteiro Zuleido Veras já aparecia, deu origem à Operação Navalha e por isso consta do relatório da PF.

No mesmo documento da PF encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça, a Divisão de Contra-Inteligência acusa o juiz Durval Carneiro Neto, da 2ª Vara Federal da Bahia, de participar do vazamento de informações e, com isso, inviabilizar as investigações sobre corrupção de delegados em postos estratégicos da Polícia Federal.

Denúncia a partir de gravações

Segundo o relatório da Contra-Inteligência, Zulmar Pimentel teria avisado o colega João Batista de que estava sendo alvo de uma investigação criminal. "No dia 23 de fevereiro de 2006, na cidade de Fortaleza, o diretor executivo do Departamento de Polícia Federal, Zulmar Pimentel, informou ao então superintendente regional no Ceará, delegado João Batista, acerca da existência de investigação contra o mesmo, inviabilizando, assim, o prosseguimento desta", diz o documento.

A Contra-Inteligência sustenta ainda, no mesmo documento, que Pimentel informou que Batista seria exonerado do cargo de superintendente no início do mês seguinte. "Como já era de se esperar, a notícia da existência de investigação contra João Batista foi difundida a outros investigados, como Rubem Patury e Paulo Bezerra, fazendo com que os mesmos ficassem alertas. É certo, assim, que as investigações relativas aos atos de João Batista ficaram sobremaneira prejudicadas", acusa o relatório. A Contra-Inteligência ampara a denúncia em gravações de conversas de Pimentel e do delegado aposentado Marco Antônio Cavaleiro, funcionário do gabinete do senador Romeu Tuma (DEM-SP), entre outras.

Juiz teria avisado Paulo Bezerra

Num dos diálogos, gravado no início do ano passado, Cavaleiro avisa que Pimentel iria a Fortaleza conversar com João Batista.

- Eu acho que tem umas putaria aí em cima de ti, hein, se prepara. Ele (Zulmar) vai aí ... eu já sei duns troço aí que... eu tentei contornar por aqui... sei que o negócio tá feio... procurador metido... - diz Cavaleiro.

Diante da perplexidade do colega, Cavaleiro acrescenta:

- Ele (Zulmar) ta indo aí (para Fortaleza) pra falar com JB, que é pra se preparar.

No relatório, a PF acusa João Batista de pedir presentes ao empresário de Salvador Clemilton Oliveira Resende. Em troca dos presentes, Batista teria informado que o empresário também estava sendo alvo de investigação sobre corrupção. Essa apuração foi iniciada em 2004 e, nela, o nome de Zuleido Veras já aparecia como um dos alvos da PF. Foi essa investigação que deu origem à Operação Navalha.

A Contra-Inteligência sustenta ainda que coube ao juiz Durval Carneiro Neto alertar Paulo Bezerra, na época superintendente da PF em Brasília, que o delegado estava sendo alvo de uma investigação. O vazamento das informações foi presenciado pelo procurador da República André Luiz Batista.

Num ofício enviado ao delegado Emmanuel Henrique Balduíno, chefe da Divisão de Contra-Inteligência, em setembro do ano passado, o procurador diz que foi convidado para participar de uma reunião com o juiz e Paulo Bezerra. Luiz Batista entendeu que a estratégia do juiz era tranquilizar o delegado e, com isso, assegurar o andamento das investigações sobre policiais corruptos. "Porém, no curso da mencionada reunião, foram reveladas informações detalhadas concernentes à Operação Navalha, mais especificamente sobre a pessoa do dr. Paulo Bezerra", descreveu o procurador.

As explicações sobre as origens do caso ajudam a entender por que a Contra-Inteligência decidiu batizar a operação de Navalha. Na verdade, trata-se de uma operação que teve como objetivo prender policiais corruptos, ou seja, era como se a PF estivesse cortando a própria carne.

Procurado pelo GLOBO, Zulmar afirmou que não sabia dessa investigação. Ele, entretanto, classificou de normal essa nova frente de apuração que envolve o seu nome:

- Se estou investigado, eu não sei. Não tenho essa informação. Se estão me investigando, não vão me contar. É um processo natural. Não me surpreendo com a investigação. O que eu posso afirmar é que o fato (do vazamento de informações) não existe. Eu não temo nada na minha vida.