Título: Especialista vê no bagaço da cana uma opção
Autor: Ordoñez, Ramona e Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 21/05/2007, Economia, p. 16

Energia equivaleria a "mais que um Rio Madeira" somente em São Paulo

Diante das previsões cada vez mais otimistas sobre o crescimento da economia brasileira - que fazem crescer o temor de um novo apagão a partir de 2009 - empresários e especialistas do setor privado apostam na construção de térmicas como única saída para evitar um racionamento. Afinal, uma usina hidrelétrica leva de seis a sete anos para entrar em operação. As térmicas, por sua vez, podem ser construídas em até 18 meses. Mas consultores ambientais e acadêmicos vêem outras alternativas - em alguns casos mais caras, porém sempre mais limpas.

Roberto Schaeffer, da Coppe/UFRJ, acredita que o país tem um enorme potencial a explorar na co-geração de energia a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Como a previsão é de franca expansão no setor sucroalcooleiro - devido à crescente demanda mundial por álcool - haverá mais matéria-prima para esse tipo de geração de energia.

- As usinas de açúcar e álcool, normalmente, são auto-suficientes em energia. Para exportarem energia ao sistema, gerando eletricidade extra, seria preciso fazer investimentos. Mas os empresários do setor estão interessados em investir apenas nos seus próprios negócios. Seria preciso planejamento e incentivos do governo - afirma Schaeffer, acrescentando que "há mais do que um Rio Madeira" em termos de geração de energia a partir de bagaço da cana-de--açúcar somente no Estado de São Paulo.

Antonio Carlos Porto Araújo, consultor da Trevisan especialista em meio ambiente, cita outra opção: dar mais potência às atuais hidrelétricas, substituindo ou adaptando suas turbinas para ganhar eficiência.

- Mas isso exige um investimento elevado. Quase todas as hidrelétricas do país poderiam fazer isso, inclusive Itaipu. Os dados são divergentes mas, dependendo do tipo de tecnologia empregada, seria possível aumentar a produção de energia em 33% ou mesmo dobrá-la.

Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), só vê uma alternativa factível para evitar um apagão em 2009 ou 2010: mais térmicas a óleo, fonte mais suja e mais cara. Adjarma Azevedo, conselheiro da Abrace, destaca que o Brasil está indo na contramão do mundo:

- Hoje, no mundo globalizado, quando os países tentam proteger as suas vantagens competitivas, o Brasil, ao contrario, está abdicando do seu vasto potencial da barata energia hídrica. Os atrasos nos licenciamentos, a falta de projetos hídricos e alguns aspectos regulatórios empurram a matriz para as energias mais caras e não renováveis. Mas, qual a opção? Energia ou não energia? - afirma. (Luciana Rodrigues)