Título: Um ministro constrangido na comitiva presidencial
Autor: Franco, Ilimar e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 22/05/2007, O País, p. 3

No Paraguai, Lula desconversa.

ASSUNÇÃO. Após a conversa de meia hora que teve ontem com o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, no hotel em que estavam hospedados na capital paraguaia, o presidente Lula evitou o assunto em entrevista coletiva com o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte. E citou uma orientação que disse ter ouvido do ex-presidente francês Jacques Chirac, de que lugar de falar sobre problemas domésticos é em casa.

- Não se discutem problemas internos de um país quando se está em outro. Em três horas estarei no Brasil, aí quem sabe vocês poderiam fazer quantas perguntas quisessem sobre a Operação Navalha e outras operações que vocês quisessem. A imprensa brasileira viajará para Itaipu e poderá fazer essas e outras perguntas - disse o presidente.

Em seu discurso em Foz de Iguaçu, já de volta ao Brasil, porém, Lula falou sobre a importância da construção de Itaipu, mas não mencionou a crise envolvendo seu ministro. E não deu oportunidade a jornalistas para lhe dirigirem qualquer pergunta.

Sentado ao lado de Lula durante a entrevista no Paraguai, o ministro assistiu constrangido à declaração. Estrela da agenda do presidente nas viagens a Assunção e a Foz do Iguaçu - onde os temas principais giraram em torno da parceria na área de biocombustíveis, do Tratado de Itaipu e da inauguração de duas turbinas da hidrelétrica, ontem à tarde -, Silas passou o dia com Lula, nas atividades oficiais, no Panteão Nacional dos Heróis e no Palácio do Governo. Mas, nitidamente isolado, evitava a imprensa.

O presidente, segundo assessores, teria ficado irritado com o ministro. Ele assistiu, na noite de domingo, à reportagem do "Fantástico", da TV Globo, que mostrava imagens de uma diretora da empreiteira Gautama entrando no ministério com uma bolsa e um envelope que, segundo relatório da Polícia Federal, teriam R$100 mil de propina. Reportagem do GLOBO de ontem revelou que, segundo relatório da PF sobre a Operação Navalha, a propina teria sido levada ao gabinete do ministro em troca de favorecimento da construtora Gautama em uma licitação.

Na noite de domingo, ainda sem detalhes, mas diante dos boatos sobre as acusações da Polícia Federal, o ministro chegou a passar por um biombo - na entrada do salão onde ocorria o encontro entre empresários brasileiros e paraguaios - para escapar do assédio da imprensa brasileira. Silas integrou uma delegação de oito ministros, que assinaram 18 convênios com o governo paraguaio.