Título: Lula decide futuro de ministro hoje
Autor: Franco, Ilimar e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 22/05/2007, O País, p. 3

Acusado pela PF de receber propina, Silas nega mas é pressionado até pelo PMDB a sair.

Oministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, orientado pelo senador José Sarney (PMDB-AP), chegou a pedir seu afastamento do cargo ontem, durante conversa de 30 minutos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Assunção, no Paraguai. O futuro do ministro, indicado por Sarney para o ministério, vai ser decidido em audiência com Lula hoje, quando será feita uma avaliação dos desdobramentos políticos das revelações contidas no relatório da Operação Navalha, da Polícia Federal, que o acusa de ter recebido propina de R$100 mil da Gautama, empreiteira que operava o esquema de desvio de verbas públicas.

Aliados políticos do ministro querem que ele saia da linha de tiro, o que não ocorrerá se ele permanecer à frente do ministério. Ontem, no Paraguai, durante o café da manhã, Silas deu explicações a Lula, negando ter recebido R$100 mil de propina da Gautama, do empresário Zuleido Veras, como acusa a PF. Na conversa com Lula, o ministro manifestou o desejo de deixar o cargo, para evitar que o governo seja penalizado, mas afirmou que nada será provado contra ele.

- Não vão conseguir provar nada, porque eu nunca recebi - disse Sila, na conversa com o presidente.

O governo está bastante cauteloso diante do episódio. A avaliação inicial é de que o relatório da PF faz uma acusação frágil, mas ninguém descarta que pode haver mais coisas que não foram tornadas públicas. Além disso, um assessor de Lula acrescentou que o ministro está "abaladíssimo" e deu demonstrações de que não teria condições emocionais de manter seu ritmo de trabalho no ministério, considerado estratégico para o PAC, e, ao mesmo tempo, defender-se das acusações contidas no relatório da PF.

No fim da tarde, auxiliares do presidente disseram que o afastamento de Silas poderia se transformar numa licença, no estilo do ex-ministro Henrique Hargreaves, no governo do presidente Itamar Franco. Mas isso vai depender da conversa de hoje

Publicamente, o senador José Sarney defendeu Silas e informou que o afastamento do ministro seria decidido hoje com Lula.

- Silas é um rapaz sério, probo, pobre e incapaz de fazer uma coisa dessas. Todos podemos ter opinião sobre o que fazer, mas não somos nós que decidimos. Isso cabe a ele e ao presidente - disse Sarney.

O senador defendeu o direito de defesa e a presunção da inocência, mas também que as investigações feitas pela PF sejam levadas adiante.

- A campanha contra a corrupção tem que continuar, quem tiver culpa tem que pagar - disse.

"Prejulgamento é uma coisa horrível"

Em Foz do Iguaçu, onde acompanhava o presidente Lula depois de visita ao Paraguai, Silas Rondeau disse que determinou a abertura de um processo administrativo no ministério para apurar as denúncias. Disse que, "se houve incúria", os responsáveis serão punidos, e recusou-se a responder se vai ou não deixar o cargo.

- As acusações são gravíssimas. Precisam ser apuradas. A sociedade não pode ficar sem resposta. Já mandei abrir um processo administrativo e amanhã (hoje) tenho uma reunião com o presidente Lula para tratar do assunto - disse Silas, em rápida entrevista na hidrelétrica de Itaipu, onde, ao lado de Lula, inaugurou as duas últimas unidades geradoras de energia da binacional.

O ministro não explicou contra quem será aberto o processo:

- Farei uma avaliação. Se houve incúria, os responsáveis serão punidos - disse apenas.

Mais cedo, em Assunção, Silas assinou convênio com o governo paraguaio para parcerias na área de biocombustível, participou de seminário sobre o tema e acompanhou a comitiva de Lula. Cabisbaixo, respondeu a poucas perguntas, após insistência de repórteres. Sobre a acusação da PF de que teria recebido propina de R$100 mil da Gautama, disse:

- Isso não existe. Eu desconheço. Voltarei ao Brasil para tratar do caso.

Em seguida, ele classificou de prejulgamento as denúncias:

- Isso é muito ruim. Causa uma indignação. Esse prejulgamento é uma coisa horrível. Eu não posso aceitar isso.

Em tom de desabafo, o ministro disse que sua história de vida está acima de qualquer cargo que exerça e que a onda de denúncias é nociva. Na tarde de domingo, ele havia afirmado que as suspeitas sobre ele criavam "pauta negativa" em torno do PAC:

- Eu tenho uma história e uma biografia a zelar, que está acima de cargo, acima de tudo. Acho um processo extremamente nocivo. Agora, cabe à Justiça confirmar e esclarecer.

* Enviada especial

** Especial para O GLOBO