Título: Gravação complica deputado federal
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 22/05/2007, O País, p. 8

Paulo Magalhães (DEM) combina com dono da Gautama pressão no TCU.

BRASÍLIA. A PF interceptou uma conversa entre o deputado federal Paulo Magalhães (DEM-BA) e o empresário Zuleido Veras, em 4 de abril deste ano, na qual eles combinam uma forma de pressionar os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU). O parlamentar teria recorrido a ministros do TCU para tentar beneficiar a Gautama em processos contra a construtora.

Os dois conversam sobre uma decisão desfavorável à Gautama que, segundo a Polícia Federal, foi dada pelo ministro Ubiratan Aguiar. Zuleido diz ao deputado que quem deve pedir vista do caso é o ministro Augusto Nardes, ou então o ministro Guilherme Palmeira.

- Zuleido, tudo bem? Confirmou aquele negócio? - pergunta Magalhães.

- Confirmou, confirmou. Mas o pessoal tá lá, nós estamos fazendo que começou ontem e pedindo vista, tá? - responde Zuleido.

- Bom - diz Magalhães.

- Quem deve pedir é Nardes, ou coisa assim, tá? Ou então o Guilherme. Mas já está resolvido - diz Zuleido.

O empresário recomenda ao deputado, que é sobrinho do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), visita ao TCU, e sugere que ele diga o seguinte ao ministro Ubiratan Aguiar:

- Olha, meu amigo, não faça mais isso com a gente, não, que a empresa é minha. Pode dizer assim.

Magalhães responde:

- Lógico. Não vou dar atestado a ele não. Que é isso, p...? Que linguagem é essa? Como é que tem uma conversa comigo e faz outra.

Ubiratan Aguiar disse ao GLOBO que relatou dois casos envolvendo a Gautama recentemente, e que, de fato, deu pareceres contrários à construtora. Num deles, Aguiar determina que a Gautama devolvesse cerca de R$1 milhão à Petrobras por descumprimento de contrato. Em outro, afirma que o governo não deve repassar recursos para a construtora, pois a Gautama não teria cumprido o contrato. Segundo Aguiar, os pareceres foram aprovados pelo plenário, e não houve pedido de vista de Nardes nem de Palmeira.

As gravações feitas pela PF revelam ainda que diretores da Gautama tentaram influenciar ministros do TCU. Nove obras da Gautama estavam paralisadas no tribunal, nos últimos dois anos, por indícios de superfaturamento, fraudes em licitação e outras irregularidades.

Zuleido tentou convencer, sem sucesso, o procurador do Ministério Público junto ao TCU, Lucas Furtado, a não entrar com uma representação contra a Gautama, em 2006. Nas gravações, o procurador é xingado pela direção da Gautama.