Título: Renan condena vazamentos e especulações
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 22/05/2007, O País, p. 8

Delcídio também se defende e diz que é vítima de perseguição política da Polícia Federal.

BRASÍLIA. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobrou do Ministério da Justiça a divulgação de informações mais precisas sobre o envolvimento de autoridades nas investigações da Polícia Federal sobre o esquema de fraudes em licitações públicas, chefiado por Zuleido Veras, dono da Gautama. A divulgação parcial das provas e do resultado da investigação, segundo Renan, estaria estimulando especulações políticas e comprometendo o estado de direito.

- As especulações estão se sobrepondo aos fatos. E em ocasiões como essas sempre aparecem oportunistas querendo tirar dividendos políticos. Por isso, é muito importante que tenhamos conhecimento sobre a extensão da investigação em curso. Do jeito como os fatos estão sendo divulgados, é muito ruim para a democracia e o estado de direito, porque cria espaço para o uso político de uma investigação conduzida pela Polícia Federal - disse Renan.

Para o presidente do Senado, as especulações sobre o envolvimento do ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, no esquema de fraude das licitações seria um exemplo disso:

- Até agora não há nada que comprove o envolvimento do ministro. Enquanto não se avançar nas investigações, esse tipo de especulação permanecerá.

Renan demonstrou irritação com a divulgação do conteúdo do grampo telefônico autorizado pela Justiça - em reportagem de ontem no GLOBO - em que seu nome foi citado por integrantes da suposta quadrilha. A conversa se dá entre Bolivar Ribeiro Saback, lobista da Gautama, e Zuleido. No diálogo, Bolivar afirma que Zuleido mobilizou muita gente, incluindo Renan e o governador de Alagoas, o tucano Teotônio Vilela, para pressionar pela liberação de recursos para a construção de canais em Pratagy, o que teria contrariado o secretário da Fazenda do estado, Henrique Araújo Ferreira.

- Não temo absolutamente nada. Não há investimento feito em Alagoas que não tenha a interferência da bancada do estado. E todos os pedidos que recebi para interferir foram feitos por governadores e prefeitos. Peço que todos eles encaminhem o pedido por escrito para dar maior legitimidade ao pleito - disse Renan: - Se as obras são superfaturadas, se há envolvimento com o crime ou desvio de comportamento de alguém, isso tem de ser esclarecido.

Renan admitiu que conhece Zuleido há 30 anos, mas frisou que nunca manteve uma relação muito próxima com ele:

- Conheço Zuleido como conheço representantes de várias empresas que têm investimentos em Alagoas.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) se apresentou ontem como vítima de perseguição política, da qual a Polícia Federal seria o instrumento. Em discurso no Senado, afirmou que não sabia que Zuleido assumira o aluguel de R$24 mil de um avião, da empresa Ícaro, que o levou para Barretos (SP), em abril. Delcídio não negou conhecer o empresário, mas disse desconhecer que seu amigo, o empresário Luiz Gonzaga Salomon, o Zaga, havia se comprometido a pagar a viagem com a ajuda de Veras.

O senador disse que quer ser o primeiro a assinar uma CPI para investigar as atividades da Gautama. E sugeriu estar sendo perseguido por sua ação na CPI dos Correios.

- Fui investigado por onze meses durante a CPI dos Correios, minha mulher também e até minha mãe, que mora em Corumbá. Na Operação Têmis procuraram me envolver, dizendo que havia indicado um desembargador para o Tribunal Federal de São Paulo. Fica o questionamento: Por que aparece o senador DelcÍdio? É estranho. Fui investigado de fio a pavio, e saí com bom senso e transparência - disse.

Outro parlamentar que usou ontem a tribuna para negar seu envolvimento com a Gautama foi o senador Papaléo Paes (PSDB-AP). Ele confirmou que recebeu de Zuleido, na eleição de 2006, uma doação de R$100 mil para sua campanha ao governo do estado, mas afirmou que não havia nada de irregular nisso, uma vez que declarou a doação na prestação de contas apresentada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

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