Título: Da base à oposição, agora todos resistem a CPI
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 22/05/2007, O País, p. 9
Operação Navalha atinge diversos partidos, e líderes não querem ou se dividem sobre investigação no Congresso.
BRASÍLIA. A criação de uma CPI para investigar o desvio de recursos públicos pela empreiteira de Zuleido Veras junto a políticos de vários partidos encontra forte resistência na Câmara. A maior parte dos partidos, governistas e de oposição, é contra iniciativa nesse sentido. Numa segunda-feira de Casa vazia, apenas PPS e PSOL, que juntos somam apenas 17 deputados, defenderam abertamente essa CPI. Para a criação de uma CPI na Câmara são necessárias 171 assinaturas de deputados.
Para o DEM, que tem sob a mira das investigações da PF o ex-governador de Sergipe João Alves Filho, uma CPI da Operação Navalha não faz sentido e pode desmoralizar o instrumento de investigação do Legislativo, segundo argumentou ontem o presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ). O líder da bancada, Onyx Lorenzoni (RS), defende uma CPI mista, mas para investigar a corrupção em obras públicas em geral.
- CPI da Navalha por quê? Vamos fazer concorrência à PF? De investigar fulano, sicrano, a PF cuida - disse Onyx.
O líder do PSDB na Câmara, Antônio Pannunzio (SP), foi o mais receptivo à idéia de uma investigação. Disse que, se a PF divulgar a relação com mais de 40 deputados, de uma lista apreendida no escritório de Zuleido, o problema ganhará dimensão que justificará uma CPI. A operação investiga políticos do PSDB, como o governador de Alagoas, Teotônio Vilela.
- A CPI traz uma dinâmica mais acelerada nas investigações. Se há envolvimento de políticos, a CPI ajudará a separar mais rapidamente o joio do trigo - disse Pannunzio.
"Agora tudo é CPI", diz petista
Entre os partidos da base aliada, que também têm políticos sob a mira da Navalha, como o ministro de Minas Energia, Silas Rondeau, e o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o sentimento é de rejeitar uma CPI neste momento. O líder do PT, Luiz Sérgio (RJ), ainda vai se reunir com a bancada, mas pessoalmente é contrário a uma CPI:
- Agora tudo é CPI a reboque de ação da PF! CPI virou rabiola de pipa: a PF empina e a CPI vai atrás, em busca de holofotes.
O líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), defende que a Casa tome providências em relação a deputados envolvidos, mas também é contra CPI. Para Múcio, a PF já está investigando e a Câmara deve requerer a lista dos supostos deputado envolvidos:
- Temos que ver a lista, averiguar a veracidade das informações ouvindo as fitas e tomar as providências. Este Congresso está apenas começando e tem que ser exemplar: tirar quem estiver envolvido para que os outros continuem legislando.
Os deputados Augusto Carvalho (PPS-DF) e Júlio Delgado (PSB-MG) apresentaram ontem requerimento para a criação de uma CPI Mista (Câmara e Senado) da Operação Navalha e outro para investigar as denúncias da Operação Hurricane, sobre sentenças fraudadas para o funcionamento dos bingos no país. São necessárias 171 assinaturas de deputados e 27 de senadores para a criação de uma CPI.