Título: Encontro entre China e EUA começa hoje com foco em possível retaliação
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 22/05/2007, Economia, p. 18

Missão chega a Washington disposta a ceder para evitar guerra comercial.

PEQUIM. O segundo encontro de cúpula na área econômica entre China e EUA começa hoje em Washington com os holofotes apontados para a vice-primeira-ministra da China, Wu Yi, e seu interlocutor americano, o secretário do Tesouro, Henry Paulson. Mas os olhos dos analistas mundiais estarão mesmo é nos parlamentares que integram as comissões de Finanças e Comércio do Senado e da Câmara dos EUA, onde hoje está sendo gestado um pacote de retaliação à China por causa do que os americanos chamam de "uso do câmbio como estratégia desleal de comércio".

Wu Yi chega hoje na capital americana com uma missão de representantes chineses dos ministérios de Comércio, Finanças e da Comissão de Desenvolvimento e Reforma Nacional (espécie de Planejamento na China), disposta a fazer concessões que permitam o país manter suas políticas monetária e cambial inalteradas, num momento em Henry Paulson e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, tentam convencer o Congresso americano a recuar nas intenções de iniciar uma guerra comercial com os chineses.

Para especialistas, China pode oferecer mais abertura

Na semana passada, o governo da China aumentou as taxas de juros básicas, ampliou a banda de flutuação do câmbio, elevou o nível do depósito compulsório dos bancos (a quantidade de dinheiro que os bancos são obrigados a manter no BC) e ainda aumentou a taxação sobre alguns produtos exportados. As medidas, no entanto, que buscam desaquecer a economia chinesa e reduzir o enorme superávit comercial do país com o mundo, não convenceram o mercado. A maior prova disso é que a Bolsa de Xangai fechou ontem em alta de 1,04%, e a de Hong Kong subiu 0,11%.

- Se as bolsas tivessem caído, seria melhor - afirmou Daniel Covre, do escritório do Banco Itaú BBA ontem, durante encontro na embaixada do Brasil em Pequim. - Subindo, os agentes mostram que as medidas não terão impacto, e penso que, no futuro, o governo chinês terá que adotar ações mais sérias, que possam causar uma queda significativa na atividade econômica do país.

De fato, se depender do discurso das autoridades chinesas, a política atual de crescimento acelerado com ajuste lento de juros e câmbio será mantida.

- Não vamos mexer na nossa política econômica - afirmou o primeiro-ministro, Wen Jiabao.

Mas, segundo especialistas, a China pode acenar para os americanos com mais abertura de setores da economia, como telecomunicações e serviços, apertar as ações de defesa de propriedade intelectual, fechar um acordo que abrirá mais o setor de aviação chinês a empresas americanas e até anunciar a importação de cerca de US$10 bilhões em produtos de alta tecnologia.

O governo dos EUA pede calma e vê com bons olhos o acordo, mas os parlamentares não parecem convencidos.

- Aumentar a banda de flutuação do câmbio para limites que nunca são atingidos é insignificante - afirmou Sander Levin, chefe do Subcomitê de Comércio da Câmara. - Precisamos ver ações concretas. Queremos ver movimentos significativos.

Ano passado, o déficit dos americanos com os chineses chegou a US$232,5 bilhões.