Título: Presidente paraguaio pede revisão do acordo sobre hidrelétrica de Itaipu
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 22/05/2007, Economia, p. 21

Em visita ao país vizinho, Lula diz que agora não é o momento adequado.

ASSUNÇÃO. O esforço diplomático do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que lançou mão do portunhol para atrair a simpatia do presidente paraguaio Nicanor Duarte - não foi suficiente para disfarçar o impasse em um dos temas mais caros aos paraguaios. Pela primeira vez, Duarte deixou claro o pedido de modificação dos termos do Tratado de Itaipu, que estabelece as regras para a comercialização da energia produzida pela usina. E levou de Lula a resposta: o momento não é adequado.

Pelo acordo, cada país tem direito a 50% da energia produzida. O Paraguai usa apenas 6%, mas a diferença só pode ser vendida ao Brasil.

- Mais cedo ou mais tarde será preciso buscar acordos políticos e econômicos para começar a revisar o tratado, buscando mais justiça e igualdade para os nossos povos - disse Duarte.

Após a assinatura de 18 convênios nas áreas de biocombustível, fronteiras sanitárias e inclusão postal, entre outros temas, Lula mandou o recado:

- O dever de ofício de um presidente da República é, muitas vezes, oscilar entre o calor de sua alma latino-americana e a racionalidade do papel que um presidente da República tem que exercer.

Em entrevista, em seguida, Lula disse que o momento não é propício para discutir o tema:

- O tema não estava na pauta. Não existe tema proibido, mas precisamos fazer uma coisa de cada vez.

Tratado é fruto de corrupção nos dois países, diz jornal

O jornal paraguaio "ABC Color", que anteontem chamou o Brasil de imperialista, afirmou ontem que o tratado tem sido perpetuado "pelos governantes e funcionários corruptos de ambos os países, que enriqueceram enormemente e seguem enriquecendo".

Duarte disse que Lula deu ordens à Receita Federal para que, em 30 dias, seja adotada a cobrança de uma taxa sobre mercadorias compradas por brasileiros no Paraguai. Segundo ele, a taxa seria de 18% e haveria um limite de compra de R$300 mil por ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também presente à reunião, afirmou, no entanto, que a proposta brasileira é de uma taxa de 50% e limite de R$120 mil.

Em uma brincadeira com o colega paraguaio, Lula disse em portunhol:

- Já estava pensando que tu não gostavas de mim, porque ainda não tinha me invitado para uma visita oficial.

À noite, Lula e Duarte inauguraram as duas últimas turbinas da Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu.