Título: Imigração em debate nos EUA
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Fonte: O Globo, 22/05/2007, O Mundo, p. 22

Dividido, Senado começa a discutir projeto polêmico que pode legalizar 12 milhões de estrangeiros.

WASHINGTON

OSenado americano começou a debater ontem um amplo plano de reforma migratória que pode legalizar a situação de parte dos 12 milhões de estrangeiros nos Estados Unidos, mas que é alvo de críticas de vários setores e por diferentes motivos: de um lado estão os grupos pró-imigração, que consideram que o plano prejudica as famílias estrangeiras no país; de outro, os conservadores, que o vêem como uma anistia. E há ainda os empregadores, que acham que o plano não chega a atender às exigências do mercado de trabalho. Com o projeto, os senadores esperam corrigir a porosidade das fronteiras, além de tirar da clandestinidade milhões de pessoas. Mas contentar os três grupos não será uma tarefa fácil.

O Senado aprovou o início do debate por 69 votos a 23, quando eram necessários pelo menos 60. Como concessão à bancada republicana, o líder da maioria, Harry Reid, anunciou que ampliava o prazo de discussão, inicialmente previsto para este fim de semana, para aprovar a reforma até o início de junho, quando os congressistas retornam do recesso pelo Memorial Day.

Na semana passada, o presidente George W. Bush e um grupo bipartidário esboçou uma versão do projeto que aumenta o controle das fronteiras. Mas a proposta precisa ser aprovada nas duas casas antes de se transformar em lei. Bush, que fez da reforma migratória uma de suas prioridades, deseja ver a nova lei implementada até o final deste ano.

Vistos de trabalho seriam 400 mil por ano

A senadora republicana Kay Bailey Hutchinson, que se opõe ao projeto, disse ontem que vai apresentar uma emenda para restringir o acesso dos ilegais à residência permanente.

¿ É difícil prever o que vai ocorrer e se vai ser possível manter uma coalizão de centro em torno do tema ¿ disse Tamas Jacoby, especialista em imigração do Instituto Manhattan.

Sob a proposta, imigrantes interessados no ¿visto Z¿ teriam que pagar uma multa de US$5 mil ¿ mas, segundo críticos, o processo todo custaria mais do que o dobro ¿ entrar numa fila e submeter-se a uma investigação de antecedentes criminais. O chefe da família teria que voltar ao país de origem num prazo de oito anos para de lá requisitar o visto permanente.

O acordo entre democratas, republicanos e a Casa Branca inclui um sistema de pontuação para quem vai pedir residência por laços familiares, que privilegia quem tem alto nível de educação e qualificação profissional. O projeto estabelece ainda um visto de trabalho temporário de dois anos. As medidas não poderiam ser aplicadas até que 18 mil guardas de fronteira sejam designados e a barreira com o México, reforçada. Isso pode levar um ano e meio.

Mesmo se passar pelo Senado, é grande a oposição ao plano na Câmara dos Representantes.

¿ O projeto não é exatamente o que eu teria escrito, mas é um forte acordo e a melhor chance que teremos para consertar o sistema ¿ disse o senador democrata Edward Kennedy.

Enquanto isso, os grupos pró-imigração e sindicatos criticaram o programa de trabalhadores temporários, que daria apenas 400 mil vistos por ano, teria um limite de três períodos de dois anos, com um ano de intervalo fora dos EUA. Já os conservadores consideram o número de vistos alto demais. Empresários, enquanto isso, queixam-se de falta de mão-de-obra. Segundo o Departamento do Trabalho, 37% de todos os empregos da próxima década serão preenchidos por pessoas com nível secundário ou menor.

¿ Temos centenas de milhares de vagas para empregos para os quais cidadãos americanos não são encontrados ¿ disse Randel K. Johnson, vice-presidente da Câmara de Comércio.

Os imigrantes têm reclamado, principalmente, da exigência de retorno ao país de origem para pedir o visto, o que os obrigaria a deixar suas famílias sozinhas nos EUA. Eles reclamam ainda que o sistema de pontuação dá mais peso à qualificação profissional do que a laços familiares.

O líder da maioria, o senador democrata Harry Reid, disse ter reservas ao plano, e o classificou de ¿um ponto de partida¿.

¿ Se deixarmos a retórica de lado, teremos a oportunidade de aprovar uma lei que trate com justiça as pessoas e fortaleça a nossa economia ¿ disse Reid.