Título: Navalha derruba ministro
Autor: Franco, Ilimar e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 23/05/2007, O País, p. 3
DINHEIRO PÚBLICO NO RALO
Acusado pela PF, Silas Rondeau entrega o cargo a Lula e diz que provará inocência.
Cinco dias depois de deflagrada, a Operação Navalha fez sua primeira vítima. Sem condições de permanecer no governo, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, formalizou seu pedido de demissão ontem à tarde ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aceitou e decidiu nomear o secretário-executivo, Nelson Hubner, para assumir interinamente a pasta. Antes, Lula e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, se reuniram no Planalto com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP), para pedir que eles indicassem um substituto.
- Foi a melhor opção. Uma pessoa que tem credibilidade tem que sair, não pode ficar agarrado a nada, e deve se defender - disse Sarney à noite, depois de negar, durante a tarde, que tivesse ido ao Planalto.
Segundo as investigações da PF, Ivo Almeida Costa, assessor especial de Silas, teria recebido propina de R$100 mil da Gautama, do empresário Zuleido Veras, acusada pela Operação Navalha de operar um esquema de desvio de recursos públicos. No relatório enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), a PF acusa o ministro de corrupção passiva.
Sarney, que indicara Silas para o ministério, o aconselhou a sair. O ministro pedira demissão a Lula na segunda-feira, no Paraguai, como O GLOBO informou ontem. O presidente, porém, pediu que o desfecho fosse adiado para ontem, em Brasília.
A nota confirmando a demissão só foi divulgada às 20h35m, depois de um longo dia de expectativa. Silas afirma, na nota, sua "completa e absoluta inocência" em relação às acusações feitas pela PF. Diz acreditar que tudo será esclarecido e que ficarão comprovadas "a injustiça e a crueldade das mentiras e insinuações" a seu respeito.
Silas também entregou uma carta ao presidente, na qual diz que as denúncias "são descabidas e injustas". Afirma que deixa o governo para defender sua honra e sua história, "jamais questionadas em vários anos de serviços públicos prestados ao país". Alega que as denúncias causaram danos pessoais irreparáveis, e que a demissão é necessária para proteger sua família e sua honra. Na conversa, ele disse a Lula que não poderia ficar "sangrando no cargo" e que, diante da acusação da PF, ficaria sem a autoridade necessária para tocar a pasta e, sobretudo, projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Lula apóia PF, "doa a quem doer"
Quando desembarcou em Brasília, na noite de segunda-feira, Lula se reuniu com o ministro da Justiça, Tarso Genro, que fez uma análise da Operação Navalha. O assunto voltou a ser discutido na reunião de coordenação na manhã de ontem, sem a participação de Silas. Depois de um relato de Tarso sobre a Operação Navalha, Lula manifestou apoio ao trabalho da PF e repetiu que as investigações devem prosseguir, "doa a quem doer".
Dilma e Tarso participaram de boa parte da conversa entre Lula e Silas. A primeira audiência foi interrompida para o presidente receber o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e a direção da Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf). Silas retornou ao Planalto às 19h30m, com a carta de demissão, e esperou 40 minutos para ser recebido novamente por Lula.
A primeira conseqüência da demissão de Silas é a paralisação do processo de nomeação dos presidentes das estatais do setor elétrico: Eletrobrás, Eletronorte, Eletrosul, Chesf e Furnas. O PMDB governista do Senado vai indicar em 15 dias um nome técnico para suceder a Silas.
COLABORARAM: Mônica Tavares, Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos