Título: Contratos em Alagoas somam R$300 milhões
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 23/05/2007, O País, p. 8

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO:Negócios começaram na época em que Olavo Calheiros foi secretário de Infra-Estrutura.

Segundo a PF, Gautama teria subornado pessoas ligadas à família Calheiros e ao governador Teotônio Vilela.

MACEIÓ. O histórico de denúncias de irregularidades e obras inacabadas não impediram que Alagoas se tornasse um dos maiores mercados da construtora Gautama, protagonista do mais novo escândalo de fraudes em licitações públicas. Os contratos fechados pela empreiteira com o governo do estado, somados, se aproximam da cifra de R$300 milhões. Para garantir os pagamentos mesmo diante das suspeitas de fraudes, segundo a PF, a Gautama teria subornado pessoas ligadas a dois dos principais líderes políticos do estado: o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) e o governador Teotônio Vilela (PSDB).

Os negócios da empresa com o governo de Alagoas tiveram início em 1997 e 1998, período em que Olavo Calheiros, irmão de Renan, foi secretário de Infra-Estrutura - pasta que abrigava cinco dos oito presos no estado, semana passada, na Operação Navalha. Com Olavo (hoje deputado) no comando da secretaria, a Gautama ganhou duas obras de grande porte: as adutoras de água para o sertão alagoano e a macrodrenagem do Tabuleiro dos Martins, que tem como objetivo acabar com as enchentes no distrito industrial de Maceió, na cidade e universitária e em mais oito conjuntos residenciais.

Bancada de Alagoas garantia emendas

As obras têm a marca da Gautama: não foram concluídas e se tornaram alvo de diversas denúncias de irregularidade apontadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), como superfaturamento e pagamentos liberados por serviços não realizados. As construções foram bancadas com recursos do governo federal, destinados ao estado sempre por emendas da bancada de Alagoas. Segundo os auditores do TCU, pela macrodrenagem, a Gautama recebeu R$48 milhões, mas só executou R$25,6 milhões. O valor total das adutoras - que nunca levaram água ao sertão - ultrapassa R$131 milhões.

Ano passado, a bancada de Alagoas voltou a se mobilizar e, não por acaso, segundo a PF, os recursos destinados por ela foram de novo parar nas mãos da Gautama. Foram destinados pelo menos R$55 milhões para as obras de abastecimento de água do Sistema Pratagy, que tiveram início há mais de 20 anos (antes da abertura da Gautama) e estão longe de serem concluídas. Como a empresa estava inadimplente e, por isso, não poderia receber recursos, o impasse foi resolvido com pagamento de comissões a Ernani Gomes, funcionário do Ministério da Integração Nacional, diz a PF.

R$3 milhões de verba, R$145 mil de suborno

A pequena resistência encontrada no estado por conta do passado da Gautama foi vencida da mesma forma, segundo a PF. E a propina foi recebida pessoalmente, de acordo com a investigação, por Adeilson Teixeira Bezerra, atual secretário de Infra-Estrutura do estado, também preso. Ele é o atual presidente do PMDB de Maceió, indicado por Renan e por seu irmão, Olavo Calheiros. Adeilson foi nomeado secretário pelo governador Teotônio.

O governador liberou no dia 2 de março o pagamento de R$3,16 milhões à Gautama. Segundo a PF, sete dias depois seus subordinados receberam R$145 mil em dinheiro de Zuleido Veras, dono da Gautama. Ontem, Teotônio disse que nunca autorizou nenhum assessor a negociar o pagamento de dívidas com empresas. Renan já disse que defendia emendas para seu estado, como é dever do parlamentar, mas negou qualquer envolvimento com a máfia.