Título: Deputado admite ter recebido mimo de Zuleido Veras
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 23/05/2007, O País, p. 9

José Carlos Machado diz que ganhou "duas ou três" gravatas nos últimos anos.

BRASÍLIA. O deputado José Carlos Machado (DEM-SE), quarto secretário da Mesa da Câmara, admitiu ontem que recebeu gravatas de presente do proprietário da Gautama, Zuleido Veras. Ex-coordenador da bancada de Sergipe, Machado liderou, entre 2003 e 2004, a apresentação de quatro emendas ao Orçamento em favor da empreiteira, com valores de R$11 milhões a R$19 milhões. Gravações da Polícia Federal mostram Machado e Zuleido conversando em código e marcando, pelo menos, dois encontros fora do Congresso.

- Nos últimos dois ou três anos, recebi duas ou três gravatas. Era uma a cada ano. Ele dava as gravatas no fim do ano. Deixava no gabinete com minha secretária - disse Machado.

A Gautama tem contrato de R$28 milhões com o governo de Sergipe para construir adutora no Rio São Francisco. Machado é o primeiro parlamentar a reconhecer que recebeu mimo de Zuleido. Mimo foi a palavra que o ministro da Justiça, Tarso Genro, usou para classificar os presentes de Zuleido a parlamentares. Pelas contas da PF, na lista constam nomes de mais de 40 deputados. São parlamentares que apresentaram emendas ou que atuaram em favor da liberação de recursos para financiar obras da Gautama em pelo menos nove estados.

Machado disse que apresentou quatro emendas como coordenador da bancada de Sergipe em favor da Gautama: de R$19 milhões, em 2003; de R$12 milhões, em 2004; de R$19 milhões, em 2005; e outra de R$11 milhões, ano passado. As emendas foram aprovadas, mas o governo federal não liberou os recursos. Hoje, segundo o deputado, as obras estão praticamente concluídas.

Na primeira etapa das investigações da Operação Navalha, a PF captou pelo menos duas conversas sigilosas entre Machado e Zuleido. Numa delas, o deputado liga, do plenário da Câmara, para o "amigo", a quem chama de "senhor". Machado marca um encontro com o empresário, mas evita mencionar o assunto da conversa.

" Preciso conversar com o senhor", pede Machado. Zuleido pergunta onde o deputado está. Machado responde que está na Câmara. Zuleido diz que chega em Brasília no dia seguinte. "Então me reserve dez minutos", pede, de novo. Zuleido concorda: "No final da tarde eu passo aí".

O diálogo foi gravado com autorização judicial às 17h02m de 10 de julho do ano passado. No dia seguinte, em nova ligação, os dois marcam encontro num hotel de Brasília. Se tratam com intimidade, mas evitam tocar no assunto da reunião. O deputado confirmou os encontros com Zuleido. Segundo ele, é possível que o empresário quisesse pedir a inclusão de emendas para as obras da adutora do São Francisco.

- Ele não me ofereceu mais nada (além das gravatas). Ele sabia que eu não tinha influência junto ao governo federal para liberar os recursos - disse Machado.

O deputado alega que liderou a apresentação de emendas para a adutora do Rio São Francisco porque, para ele, é uma obra "estruturante" para Sergipe.