Título: Zuleido 'plantou' notícia contra desafeto, diz PF
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 23/05/2007, O País, p. 9

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Vítima foi o ex-sócio Latif Abud, com quem empreiteiro disputava contrato de obra no DF.

Gravações mostram empresário agradecendo nota publicada por Cláudio Humberto; jornalista nega acordo.

BRASÍLIA. Discrição não era o forte do empreiteiro Zuleido Veras, lobista e pagador de propina de sua empresa. Ele mantinha contato direto com políticos, visitava ministérios, participava de almoços e solenidades de assinatura de convênios com prefeituras. O empresário comandava as negociatas e, apesar de demonstrar certo receio de ser grampeado, não media as palavras em telefonemas. A interceptação telefônica da PF mostra que Zuleido tinha desenvoltura até para "plantar" notícias contra seus desafetos.

Foi o que fez contra seu ex-sócio Latif Abud, com quem brigou. A disputa pelo contrato de uma obra em Brasília foi parar no Tribunal de Contas da União. O jornalista e porta-voz do governo Fernando Collor, Cláudio Humberto, que hoje é colunista e tem um site informativo, publicou nota contrária a Latif e favorável a Zuleido. A nota, de 7 de julho de 2006, dizia que a movimentação de Latif estava incomodando e que o tribunal até pensava em vetar sua entrada no prédio. Zuleido ligou no mesmo dia para o jornalista e agradeceu. Em seguida, ligou para Maria de Fátima Palmeira, diretora da Gautama, e afirmou:

- A nota tá dentro daquilo que a gente acertou.

Cláudio Humberto disse ontem que Zuleido é sua fonte. Ele afirmou que foi um ministro do TCU quem passou a informação sobre Latif e que o único interesse em publicar a notícia foi jornalístico:

- Para o jornalista não importa se a notícia desagrade ou não a quem quer que seja. Importa que seja verdadeira. Nesse caso, não houve desmentido. É comum, na rotina de Brasília, pessoas ligarem para agradecer ou criticar notas. Não posso controlar bravatas que falam por aí em telefonemas.

Nas conversas com diretores da Gautama, Zuleido é chamado de "chefe". Propina é tratada como "agrado a eles". E negociata é batizada de "missão". Num diálogo com seu irmão Dimas Veras, ao tratar do programa Luz Para Todos, Zuleido diz:

- Vê se faz aí uns cinco milhões.

A linguagem do diálogo da turma da Gautama é bem próxima de conversas entre integrantes de quadrilha. Em março de 2007, Zuleido fala com um interlocutor da dificuldade de fechar um negócio no Maranhão.

- Não consegui enquadrá-lo - disse ele, sobre Alexandre Lago, sobrinho do governador do Maranhão, Jackson Lago.

Nas suas conversas, é comum Zuleido usar a expressão "pode mandar bala", quando autoriza que algo seja feito, como no caso do pagamento do frete do avião para levar o senador Delcídio Amaral (PT-MS) ao enterro do sogro.