Título: Médico é ferido com 6 tiros no Humaitá
Autor: Goulart, Gustavo
Fonte: O Globo, 23/05/2007, Rio, p. 13

Crime pode estar relacionado com auditoria realizada pela vítima na Caarj.

A polícia investiga uma tentativa de homicídio sofrida pelo médico Eduardo Falcão Pinto, de 53 anos, baleado na manhã de ontem na Rua Maria Eugênia, no Humaitá. De acordo com um tenente dos bombeiros e uma testemunha, ao ser socorrido, o médico disse que os criminosos pretendiam executá-lo. O crime pode estar relacionado ao trabalho de auditoria realizado por Falcão na Caixa de Assistência dos Advogados do Rio de Janeiro (Caarj), que recentemente rescindiu contratos com prestadores de serviços. Dois homens num Honda Civic foram responsáveis pelos seis tiros, que atingiram o médico no tórax. Os criminosos deixaram o local sem nada levar da vítima.

¿ Tira o cartão do meu bolso, liga para a Caarj para falar com o presidente. Avisa que o doutor Eduardo sofreu um atentado. Não acredito que esse cara atirou em mim ¿ disse Falcão, de acordo com uma testemunha, quando era socorrido pelos bombeiros.

OAB pede proteção para médico atacado

A Caarj é responsável por prestar serviços médicos a advogados no Rio. Falcão foi contratado em janeiro pela nova diretoria para fazer a auditoria. O objetivo era rever contratos, analisar despesas com clínicas, hospitais e médicos credenciados, para reequilibrar as contas deixadas pela última administração. Segundo o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio (OAB-RJ), Wadih Damous, foi encontrada uma série de falhas administrativas e irregularidades.

¿ O Eduardo Falcão estava responsável pela rescisão de uma série de contratos considerados lesivos à Caarj. Foi pedida ao delegado da área proteção para ele. Esperamos que a polícia apure rapidamente o caso ¿ afirmou Wadih Damous.

O crime ocorreu por volta das 9h, quando o médico ia em direção ao carro, um Palio, estacionado em frente ao número 90 da Rua Maria Eugênia. Segundo moradores, dois homens estavam desde as 7h nas imediações e aguardavam o médico num Honda Civic. Um deles o chamou pelo nome e efetuou os disparos. Uma moradora levou a vítima até o quartel dos bombeiros no Humaitá. De lá, Falcão foi transferido para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, onde passou por uma cirurgia. Até o início da noite, seu quadro de saúde era estável.

Segundo a polícia, Falcão também trabalha no Hospital Naval Marcílio Dias, no Lins Vasconcelos. O sogro do médico, o almirante da Marinha aposentado Orlando Affonso, negou que a família estivesse recebendo ameaças e disse acreditar numa tentativa de assalto. Para o delegado adjunto da 10ª DP (Botafogo), Carlos Abreu, não será descartada a possibilidade de assalto, mas as evidências colhidas pelos policiais apontam para tentativa de assassinato:

¿ Tivemos a informação de que a própria vítima alertou para uma tentativa de execução. Vamos investigar sem descartar nenhuma possibilidade ¿ afirmou o delegado.

Diretoria diz que não soube de qualquer ameaça

A diretoria da Caarj não informou quais contratos foram rescindidos e preferiu não se manifestar. De acordo com a assessoria da entidade, a diretoria não foi informada de qualquer ameaça ao médico.

A situação crítica da Caarj foi um dos principais temas discutidos nas eleições para a OAB no fim do ano passado. Os altos preços cobrados dos associados e a baixa qualidade dos serviços prestados foram questionados na campanha.