Título: Petrobras ameaça cancelar a venda de refinarias para governo boliviano
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 23/05/2007, Economia, p. 22

País vizinho quer que empresas vendam gás primeiro para mercado interno.

RIO e LA PAZ. A Petrobras poderá cancelar a venda de suas duas refinarias na Bolívia, caso o negócio acertado com o governo boliviano há duas semanas não seja concretizado com o pagamento de metade dos US$112 milhões até 11 de junho. O presidente da Petrobras Bolívia, José Fernando de Freitas, disse ontem, contudo, estar confiante de que o contrato de venda seja assinado no máximo até a próxima semana, com o pagamento em dinheiro da primeira parcela - e não em gás, como chegou a ser cogitado.

- Não tem por que demorar mais. Nós queremos vender, e eles querem comprar. Tem que ser feito o mais rápido possível - afirmou Freitas, que não esconde a pressa da estatal de entregar o negócio de refino para o governo boliviano.

O presidente da Petrobras Bolívia explicou que a proposta de venda das refinarias, entregue pela companhia há duas semanas ao governo boliviano, dava prazo de 30 dias para o fechamento do acordo nas bases, condições e nos preços apresentados. O executivo disse que tanto a primeira parcela do pagamento, como a segunda e última, prevista para 60 dias depois da assinatura do contrato, serão feitas em dinheiro.

- O pagamento é em dinheiro. O que falamos é que, se os bolivianos vierem a fazer a proposta de pagar com gás, teremos que analisar. É bom deixar claro que a Petrobras está saindo do refino porque deixou de ser um negócio rentável - destacou Freitas.

Ministro boliviano diz que pagamento será em dinheiro

À noite, o ministro de Hidrocarbonetos boliviano, Carlos Villegas, afirmou que o pagamento da primeira parcela, de US$56 milhões, será feito no dia 10, conforme prometido. Em nota divulgada no site do ministério, ele também assegurou que o pagamento será em dinheiro, não em gás.

A Petrobras comprou as duas refinarias em 1999 por US$ 102 milhões e investiu US$ 20 milhões em sua modernização. Segundo fontes técnicas, as duas refinarias teriam dado um total de US$125 milhões em dividendos para a Petrobras. Elas deixaram de ser rentáveis porque a Bolívia determinou que a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) assumisse as exportações de derivados, o único negócio que dava lucro, porque a venda no país é feita a preços subsidiados.

As duas refinarias têm ao todo 338 empregados, dos quais quatro são brasileiros cedidos pela Petrobras. A YPFB teria se comprometido a não demitir e a manter os salários e benefícios durante dois anos.

Mas os atritos entre a Petrobras e o governo da Bolívia não acabam com a venda das duas refinarias e a entrada em vigor, em 1ºde maio, dos novos contratos de exploração e produção de gás natural no país. Freitas explicou que o governo boliviano quer que as petrolíferas dêem prioridade ao fornecimento de gás para o mercado interno, conforme a resolução 255 do Ministério de Hidrocarbonetos, de dezembro.

Outras companhias supririam demanda do Brasil

Freitas disse que a Petrobras não aceita assinar o acordo de entrega de gás porque este é prejudicial à companhia, alterando uma série de condições previstas nos novos contratos que entraram em vigor este mês:

- Não aceitamos porque os termos não são adequados.

A resolução redistribui as cotas de cada empresa para o mercado interno conforme o volume produzido. A Petrobras é a maior prejudicada por ser a maior produtora. Isso significará mais uma queda na receita da companhia na Bolívia, porque terá de reduzir as exportações de gás a US$4,20 por milhão de BTUs (medida térmica), para vender no mercado interno por pouco mais de US$1,20.

Outro problema é que, se aumentar o consumo da Bolívia, hoje da ordem de cinco milhões de metros cúbicos por dia, a Petrobras corre o risco de não ter condições de atender à demanda de gás para o Brasil, que poderia ser suprida pelas companhias Chaco e Andina, controladas pela YPFB. Hoje os campos da Petrobras de San Alberto e San Antonio produzem 22 milhões de metros cúbicos por dia de gás, que vêm para o Brasil.

(*) Com agências internacionais