Título: Real forte: luta do BC aumentou dívida interna
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 23/05/2007, Economia, p. 25

Endividamento atingiu R$1,2 tri em abil. Compra de dólares elevou parcela corrigida pela Selic.

BRASÍLIA. As tentativas do governo de conter a excessiva valorização do real em relação ao dólar contribuíram para piorar o perfil da dívida interna em abril. Isso porque elas elevaram a parcela do endividamento corrigido pela Taxa Selic, que tem um custo mais elevado. Esse percentual subiu de 38,75% do estoque em março para 39,57% no mês passado. A dívida pública federal atingiu R$1,278 trilhão em abril, sendo R$1,151 trilhão relativo à dívida mobiliária federal interna (em títulos públicos), e o restante, à dívida externa.

Para tentar segurar o câmbio, o Banco Central tem feito leilões de swap cambial reverso: ele firma um contrato no qual paga aos investidores uma remuneração com base na Selic e recebe em troca a variação cambial do período. Com isso, exposição da dívida à Selic fica mais alta e mais cara para o governo.

- O custo dessa estratégia está sendo maior que o benefício. O mercado ainda aposta na valorização do real e não adianta tentar conter esse movimento. É como queimar dinheiro. O Banco Central tem de deixar a cotação do dólar se ajustar - disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Recompra de títulos poupou R$9,4 bi em juros

Segundo dados do Tesouro, a dívida mobiliária cresceu 0,77% em abril frente a março, devido principalmente a juros, que somaram R$10,8 bilhões no período. Na composição, a participação dos títulos prefixados recuou de 37,26% para 36,17% devido a um resgate líquido de R$13,3 bilhões. O governo trabalha para aumentar a participação dos prefixados na dívida, pois esse tipo de papel dá mais previsibilidade sobre os resgates.

No entanto, abril é o chamado mês "cabeça de trimestre". Ele concentra os vencimentos de papéis prefixados, o que obriga o Tesouro a fazer mais resgates, afetando a composição da dívida. No caso dos títulos corrigidos pela Selic, o governo fez uma emissão líquida de R$4,85 bilhões, elevando a participação desses papéis na dívida.

Do lado da dívida externa, no entanto, o real mais forte ajudou. O estoque recuou 0,85% e fechou abril em R$134,5 bilhões. Também contribuiu para essa queda o resgate líquido de títulos no período, segundo o Tesouro.

- O câmbio teve um resultado positivo na dívida externa - disse Denis Blum, economista da consultoria Tendências.

O Tesouro também informou que o programa de recompra de títulos da dívida totalizou R$4,7 bilhões em março e abril, permitindo uma economia de R$9,4 bilhões com o pagamento de juros. No primeiro quadrimestre, as recompras atingiram R$6,1 bilhões.