Título: Um grupo inspirado na al-Qaeda
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Fonte: O Globo, 23/05/2007, O Mundo, p. 28

Eles entraram no Líbano no verão passado, enquanto o mundo observava Israel destroçar esta pequena nação, numa inútil tentativa de destruir o Hezbollah. Mas os homens que fundaram seu pequeno grupo sujo no campo de refugiados de Nahr el-Barad ¿ alguns deles combatentes na guerra do Iraque, outros em Iêmen, Síria ou no próprio Líbano ¿ são muito mais perigosos do que os Estados Unidos e Israel acreditaram ser o Hezbollah na época do conflito. Eles chegaram, dizem os poucos jornalistas que já os procuraram, para ¿libertar Jerusalém¿.

A crença dos homens do Fatah al-Islam de que o caminho para Jerusalém passa pela cidade libanesa de Trípoli é típica de uma organização que, apesar de negar ser parte da al-Qaeda, é claramente próxima dos ¿irmãos¿ que servem às idéias de Bin Laden.

Na noite passada, seus combatentes em Nahr el-Barad ofereceram um cessar-fogo às tropas libanesas, depois de médicos terem suplicado por trégua, pelo menos para que feridos pudessem ser atendidos. Uma decisão curiosa para um grupo que 24 horas antes tinha prometido ¿abrir as portas do inferno¿ em todo o Líbano¿.

O grupo claramente se inspirou em parte em incitações da al-Qaeda para levar a guerra santa às fronteiras da Palestina. Uma das fronteiras, é claro, é a libanesa-israelense.

Mas por que Trípoli? E por que agora? Naturalmente por que lá está o tribunal da ONU que está prestes a julgar os responsáveis pela morte do primeiro-ministro libanês Rafiq Hariri. Teria sido a Síria?

Sabemos que um dos mortos, talvez dois, são filhos de um libanês de Sidon, Darwish Haity: ¿Meus filhos não eram assim. Fatah al-Islam os transformou em criminosos.¿ Sidon abriga o maior campo no Líbano, Ein el- Hilwe, de onde partiram pelo menos 20 palestinos para serem homens-bomba no Iraque. E Ein el-Hilwe se vangloria de ter uma série de pequenos grupos islamitas.

Quando tropas libanesas prenderam Moamar Abdullah al-Awami, em Sidon, em 2003, e o acusaram de terrorismo, ele disse ter se encontrado com três membros da al-Qaeda em Ein el-Hilweh. Vários fundamentalistas libaneses envolvidos numa batalha contra o Exército, em 2000, em Sir el-Dinniye, uniram-se ao grupo palestino Jund al-Shams, cujo líder, Mohamed Sharqiye, chegara a Sidon dez anos atrás ¿ e aqui a história fecha um círculo ¿ do mesmo Nahr el-Bared onde Fatah el-Islam se estabeleceu.

É simples dizer que é trabalho da Síria. A Síria pode ter interesse em ver essa desestabilização. Mas outras organizações podem ter visto um interesse comum.

Entrevistado no início do ano, outro líder do Fatah al-Islam, Abu Mouayed, insistiu que não estavam em contato com outros islamistas. Na época, membros da OLP diziam estar de olho no Fatah al-Islam. Mas em algum momento, o olhar se desviou.

ROBERT FISK é colunista do Independent