Título: Líbano pede ajuda aos EUA para conter radicais
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Fonte: O Globo, 23/05/2007, O Mundo, p. 28

Comboios humanitários da ONU são alvo de ataque. Milhares de palestinos fogem do campo de Nahr el Bared.

BEIRUTE. O governo libanês pediu ontem ajuda aos EUA para combater os militantes islâmicos do grupo sunita Fatah al-Islam no campo de refugiados palestinos de Nahr el Bared, perto de Trípoli, e pôr fim à violência que desde domingo assola a região. A Casa Branca respondeu que ¿analisa seriamente¿ o envio de ajuda militar e logística de emergência ao país, mas não deu detalhes. Apesar de uma trégua de algumas horas, ontem, os confrontos ficaram mais violentos. Comboios de ajuda da ONU foram atingidos e milhares de pessoas tentaram fugir do campo de refugiados.

¿ O agravamento da situação nos faz cogitar o envio de ajuda militar o mais rapidamente possível. O governo libanês foi quem nos pediu essa ajuda ¿ disse o porta-voz do departamento de Estado Sean McCormack.

Depois de uma reunião especial convocada no Cairo e com a presença da Síria, a Liga Árabe prometeu enviar ajuda militar ao Líbano. Mas o secretário-geral da liga, Amr Moussa, não detalhou a ajuda e insistiu na necessidade de cessar-fogo.

Feridos caídos nas ruas, sem socorro

Na manhã de ontem, depois de intensos combates, um porta-voz do grupo Fatah al-Islam, Abu Salim, disse que os militantes obedeceriam a um cessar-fogo se o Exército libanês não atacasse mais o campo de refugiados onde eles estão cercados.

¿ Estamos dando a chance para a calma e para um cessar-fogo. Não tem prazo para terminar se o Exército se comprometer também ¿ disse.

A calma fez com que milhares de pessoas fugissem da região, com medo de novos ataques. Apesar de não conseguirem conter toda a multidão, militares libaneses impediram a saída de centenas de pessoas. Poucas horas depois, os ataques recomeçaram. Cercado, um extremista detonou a carga de explosivos que levava presa ao corpo e morreu. Estima-se que em três dias de conflito 80 pessoas, entre elas 30 soldados libaneses, morreram. Mas as dificuldades de acesso dificultam a contagem das vítimas.

Equipes de ajuda humanitária enfrentam dificuldades para entrar no campo, onde cerca de 30 mil palestinos estão sem água, comida, energia elétrica e remédios. Seis caminhões da ONU entraram no local dos combates durante o cessar-fogo para levar alimentos, água, suprimentos médicos e um gerador de energia elétrica, mas a volta dos ataques fez com que as equipes se retirassem rapidamente. Três dos caminhões foram alvos de tiros, mas ninguém ficou ferido.

Segundo organizações médicas, muitos feridos estão caídos pelas ruas, sem ajuda médica, por causa da dificuldade de se entrar no campo.

Os episódios de violência interna no país vêm sendo descritos como os mais intensos desde o fim da guerra civil, há 17 anos. Nos combates de domingo, mais de 20 soldados e 20 militantes morreram, além de um número não confirmado de civis. O governo libanês acusa o Fatah al-Islam de tentar desestabilizar o país, enquanto o grupo alega que o Exército é o grande responsável pela violência.

Os combates começaram após as forças de segurança libanesas terem realizado uma operação em um prédio em Trípoli à procura de suspeitos de um roubo a banco. Após terem resistido à voz de prisão, militantes do Fatah al-Islam atacaram postos do Exército na entrada do campo de refugiados. O grupo supostamente teria ligações com a rede al-Qaeda e com o serviço de inteligência sírio.

Segundo a ONU, cerca de 400 mil palestinos vivem no Líbano e aproximadamente a metade vive em condições miseráveis nos 12 campos que, com o decorrer dos anos, se transformaram em grandes favelas, sem esgoto e com alto índice de mortalidade infantil.