Título: Kirchner estatiza duas linhas de trem
Autor: Camarotti, Mariana
Fonte: O Globo, 23/05/2007, O Mundo, p. 28

Concessões são tomadas da iniciativa privada após protestos sobre serviços.

BUENOS AIRES. O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, anunciou ontem que o governo tomará a concessão de duas linhas de trem que ligam o centro de Buenos Aires ao subúrbio por problemas de serviço prestado, segundo o governo. Em um discurso durante a entrega de moradias na Grande Buenos Aires, Kirchner disse que ¿continuará a batalha contra a concentração econômica¿.

As duas linhas serão entregues à Unidade Operativa Ferroviária, que já opera outra linha. Este não é o primeiro serviço que tem a concessão quebrada por Kirchner. No ano passado, a empresa de abastecimento de água e saneamento deixou de ser comandada pela iniciativa privada e voltou ao Estado.

Momento é um dos mais difíceis para o presidente

A quebra da concessão foi anunciada uma semana depois de um grave incidente na estação Constitución por causa da suspensão do serviço na hora do rush da cidade, quando pelo menos 20 pessoas ficaram feridas em um protesto. Também na semana passada, a cidade viveu um dia de caos com greve do metrô, trânsito complicado e falta de luz.

Néstor Kirchner atravessa um dos momentos mais difíceis desde maio de 2003, quando assumiu a Casa Rosada, e a menos de um mês das eleições para prefeito de Buenos Aires. O candidato oficial, o ex-ministro da Educação Daniel Filmus, aparece em terceiro lugar nas pesquisas, apesar do apoio do presidente.

Em primeiro lugar nas sondagens aparece o atual presidente do Boca Juniors, o empresário Mauricio Macri (PRO), variando de 32% a 24%, dependendo da pesquisa. Em segundo lugar vem o atual prefeito da cidade, Jorge Telerman (20,9% a 19,3%), que era vice e assumiu o cargo após Aníbal Ibarra ser destituído por causa do incêndio em uma boate de Buenos Aires, em 2004, deixando 194 mortos. Filmus (19,8% a 14,4%) aparece em terceiro.

O cenário também não é positivo a seis meses das eleições presidenciais, quando Kirchner deverá se candidatar à reeleição ou apoiar a candidatura da primeira-dama e senadora, Cristina Kirchner, o que ainda não está decidido. Na semana passada, surgiram denúncias de que o órgão regulador de gás da Argentina, o Enargas, receberia propina da empresa privada sueca Skanska para a ampliação de gasodutos. O presidente do órgão, Fulvio Madaro, foi afastado.

Ontem, mais um funcionário do governo deixou o cargo. Desta vez foi o subsecretário de Obras Públicas da Nação, Raúl Rodriguez. Também ontem, o governo oficializou a intervenção no Enargas.

Além disso, Kirchner vem enfrentando o protesto e a greve dos professores da rede pública da sua província, Santa Cruz. Os professores e o governo federal ¿ que respalda o governo da província e está intervindo nas negociações ¿ não conseguem chegar a um acordo sobre aumento de salário.

Recentemente, o governo federal sofreu também denúncias de manipulação dos índices de preços por parte da própria empresa pública de estatística, Indec. Alguns funcionários-chave terminaram sendo afastados pelo governo.

Mesmo sem o casal Kirchner anunciar qual dos dois será o candidato à Casa Rosada, os dois estão em forte campanha, entre discursos em atos públicos do presidente e viagens e reuniões da primeira-dama. Também recebe o apoio do casal Kirchner o atual vice-presidente, Daniel Scioli, para candidato a governador da província de Buenos Aires.