Título: Botões de emergência
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 24/05/2007, O Globo, p. 2

Desta vez parece que a luz vermelha acendeu em diferentes pontos da esfera política. O presidente Lula convocou para hoje uma reunião emergencial do Conselho Político da coalizão. O presidente e os líderes de todos os partidos na Câmara deflagraram um movimento pela restauração dos costumes políticos. O Senado anuncia um esforço pelas reformas orçamentária e política.

Todos estes botões de emergência foram disparados pela Operação Navalha, que parece estar servindo para firmar uma convicção do tipo "assim não é mais possível". E já que estão todos à procura de um remédio forte, que tal examinarem a adoção do recall? Voltamos a falar disso mais adiante.

Anteontem, numa reunião no Senado, presentes cinco governadores (entre os quais o presidenciável Aécio Neves) e bom número de senadores, tomou forma uma espécie de pacto: o de que ninguém ali disputará nova eleição enquanto o sistema político não for reformado, particularmente no que diz respeito ao financiamento de campanhas. Um desabafo do governador José Roberto Arruda (DF), neste sentido, acabou sendo encampado por todos.

A reunião de presidentes dos partidos governistas, diz o ministro Mares Guia (coordenação política), buscará um plano de aceleração da reforma política com incentivo do governo. Para isso, a primeira providência será a busca de um posição comum entre os aliados. O ministro da Justiça, Tarso Genro, reapresentará a proposta consensuada entre OAB, Associação dos Magistrados e Conselhão (CDES). Os pontos de consenso aparecem na proposta em exame na Câmara: financiamento público de campanhas, fidelidade partidária e voto em lista, sendo que há divergências entre os partidos quanto a este último.

- Há uma flagrante disposição do Congresso para votar a reforma política e é oportuno que a coalizão firme um juízo sobre o tema - diz o ministro.

Não será fácil, mas é bom que o governo saia da posição de mero mediador.

Tal como Arlindo e os líderes na Câmara, os senadores Aloizio Mercadante (PT), Tasso Jereissati (PSDB), José Agripino (DEM), entre outros, começaram a falar ontem de uma forte iniciativa reformadora. Mas nesta altura, para conter a deterioração da política, que parece não ter fim, qualquer reforma tem que ser rápida e radical. É preciso mudar as normas mas também a mentalidade, esta que rende vassalagem ao patrimonialismo, à esperteza, à busca da vantagem em tudo e ao culto da impunidade. No caso do Congresso, nada mudará se a representação não melhorar de qualidade. Mas como, se o sujeito, uma vez eleito, sabe que só depois de quatro anos enfrentará novo julgamento nas urnas? O recall ajudaria a qualificar as bancadas. O eleito, sabendo que a qualquer hora poderia ter o mandato revogado pelo povo, pensaria duas vezes antes de desonrá-lo, de trair seus eleitores e ferir o decoro. Há duas emendas neste sentido. Uma do senador Antonio Carlos Valadares, outra do senador Jefferson Peres.