Título: Tarso: não há investigação sobre o Parlamento
Autor: Carvalho, Jaílton de e Peña, Bernardo de la
Fonte: O Globo, 24/05/2007, O País, p. 8

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Ministro da Justiça se antecipa à PF e diz que lista de presentes ficará sem apuração.

Mas procurador-geral da República admite que pode ser necessária instalação de novo inquérito no Supremo.

BRASÍLIA. Numa tentativa de diminuir o receio de parlamentares, o ministro da Justiça, Tarso Genro, se antecipou ontem à Polícia Federal e declarou o fim das investigações sobre a lista de presentes concedidas por Zuleido Veras, dono da Gautama, a políticos e servidores públicos. Tarso disse que não há investigações adicionais à Operação Navalha, que resultou na prisão de Zuleido e mais 45 políticos, servidores e lobistas.

- Não há nenhuma linha de investigação especial sobre o Parlamento ou sobre parlamentares em especial .

O ministro convocou uma entrevista depois de se reunir no dia anterior com o presidente Lula, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AM). Sarney e Calheiros são padrinhos políticos do ex-ministro Silas Rondeau, que deixou o cargo depois de ser acusado pela Polícia Federal de receber de Zuleido uma propina de R$100 mil. A demissão do ministro e a existência da lista deixaram parlamentares da base governista e da oposição em polvorosa.

Sarney e Calheiros reclamaram da ameaça que a lista representaria para o Congresso. Tarso decidiu, então, chamar os jornalistas e minimizar a importância da lista de presentes de Zuleido. Segundo ele, o recebimento de brindes não é crime e não será investigado pela Polícia Federal. Para o ministro, a polícia só tentará esclarecer algum detalhe entre os beneficiários da lista de Zuleido se houver um pedido formal do procurador-geral da República, Antônio Fernando.

- A Polícia Federal, quando abre um inquérito, não está mandatada por ninguém para apreciar os usos e costumes, nefastos ou não, da política brasileira - disse o ministro.

A Polícia Federal enviou anteontem ao procurador-geral uma lista com os nomes de mais de cem pessoas, entre elas deputados, senadores, governadores e magistrados, que teriam recebido presentes de Zuleido. Entre os "mimos" estão garrafas de uísque e gravatas. Tarso também voltou a defender Silas. Segundo ele, não há contra o ex-ministro "provas conclusivas".

Tarso sugeriu saída de Silas

Tarso admitiu, porém, que Silas, mesmo após deixar o governo, pode ser investigado. Segundo ele, essa é uma decisão que cabe a Antonio Fernando. Tarso disse ainda que foi ele quem sugeriu que Silas deixasse o governo para que pudesse se defender melhor das acusações de envolvimento com Zuleido.

Apesar da preocupação de Tarso em tranqüilizar os parlamentares, Antonio Fernando não descartou ontem a possibilidade de abrir outras frentes de investigação com base no material apreendido pela Polícia Federal durante as buscas e apreensões feitas na Operação Navalha. Segundo ele, alguns dos documentos apreendidos reforçam o que foi apurado no inquérito instalado no STJ até agora.

O procurador evitou se referir à existência de listas com os nomes de parlamentares que teriam supostamente recebido presentes ou recursos da Gautama. Admitiu que pode ser necessária a instalação de um novo inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), local de foro privilegiado para deputados federais e senadores, para apurar outras irregularidades:

- Listas não existem. São documentos referindo-se a pessoas, anotações de nomes sem relação com qualquer outro ato ilícito. O inquérito está sendo desenvolvido com objetivo predeterminado. Eventuais fatos novos serão objeto de um novo inquérito.