Título: Lacerda defende subordinado citado na Navalha
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 24/05/2007, O País, p. 11

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Diretor-executivo é acusado de avisar a ex- superintendente do órgão sobre investigação.

Diretor da PF diz que Zulmar Pimentel, acusado de vazar informações, agiu certo ao afastar delegado suspeito.

BRASÍLIA. Em conversas com auxiliares, o diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, defendeu o diretor-executivo da instituição, Zulmar Pimentel, acusado de vazar informações sigilosas e, com isso, prejudicar investigações sobre o suposto envolvimento de outros delegados com fraudes em licitações e outros crimes. As acusações contra Zulmar foram feitas pelo relatório que a Divisão de Contra-Inteligência da PF preparou sobre a Operação Navalha. As investigações sobre os delegados tiveram início na Operação Octopus, que deu origem à Operação Navalha e investigava envolvimento de delegados acusados de favorecer um grupo de empresários baianos.

- Zulmar Pimentel fez o que tinha que ser feito. Não vejo nada de errado na conduta dele - disse Lacerda a um interlocutor, na tarde de terça-feira.

O relatório da Contra-Inteligência acusa Zulmar Pimentel de avisar ao ex-superintendente da PF no Ceará João Batista Santana sobre uma investigação em curso contra ele, no caso a Octopus. Depois teria repassado a informação ao explicar os motivos da exoneração de Santana. Para a Contra-Inteligência, embora não tenha tratado do conteúdo da operação, Zulmar acabou comprometendo o resultado da investigação. A Contra-Inteligência sustenta que ele deveria ter deixado Santana no cargo até a conclusão da produção de provas contra o delegado.

Embora evite fazer críticas publicamente, Lacerda discorda deste ponto de vista. Para o diretor da PF, Zulmar agiu corretamente ao afastar o delegado que estava sob suspeita de um cargo de comando. Lacerda disse que Zulmar não extrapolou ao explicar os motivos da exoneração.

- Zulmar Pimentel tem um passado limpo e vive modestamente. É preciso analisar o caso com cuidado para não colocar no mesmo patamar esse problema com as investigações da Operação Navalha, que são importantes - disse Lacerda.

O diretor tem dito que as informações da Contra-Inteligência estão no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e caberá à ministra Eliana Calmon, relatora do caso, avaliar os dados contra Zulmar e os demais policiais citados no relatório. A Contra-Inteligência acusa Zulmar de quebra de sigilo funcional. Já os demais delegados, João Batista Santana, Rubens Patury, César Nunes e Paulo Bezerra foram investigados no início da Octopus por envolvimento com empresários acusados de corrupção, entre eles Zuleido Veras.

Paulo Bezerra é secretário de Segurança Pública na Bahia. César Nunes comanda a Superintendência da PF no Estado. Os dois reconhecem que foram alvos de investigação, mas negam vínculo com os esquemas de Zuleido ou de outros empresários. Gravações mostram Santana pedindo passagem de avião a um empresário. O relatório informa que a festa de posse de Patury na superintendência da PF em Sergipe, que custou R$7 mil, teria sido paga por Zuleido.