Título: No Rio, protesto do MST termina em prisões
Autor: Simões, Dicler e Balbi, Aloysio
Fonte: O Globo, 24/05/2007, O País, p. 14

DIA DE PROTESTOS: Manifestantes bloquearam rodovias federais por duas horas nas regiões Sul e Norte Fluminense.

Juiz retido em engarrafamento na BR-393, em Barra do Piraí, determina a detenção de manifestantes do MST.

BARRA DO PIRAÍ e CAMPOS. Terminou em tiros, disparos de bombas e prisões o protesto de sem-terra que fecharam a BR-393 ao tráfego por duas horas, na altura de Dorândia, em Barra do Piraí, no Sul Fluminense, provocando um congestionamento de mais de dez quilômetros na estrada. Um juiz que estava retido no congestionamento determinou a prisão de 21 manifestantes, levados para a 88ª DP (Barra do Piraí) e depois para a Delegacia da Polícia Federal de Volta Redonda.

No Norte do Estado do Rio, os militantes do MST fecharam por duas horas duas rodovias federais, a BR-101 e a BR-356. Os manifestantes colocaram fogo em pneus e troncos de árvores e impediram o trânsito a partir das 9h. Somente às 11h10m, depois de uma longa negociação com a Polícia Militar, o comando do MST decidiu suspender a manifestação. Na BR-101, o protesto foi na altura do distrito de Morro do Coco, em Campos, na divisa com o Espírito Santo. Em ambos os sentidos da pista, houve um engarrafamento de mais de 20 quilômetros. O mesmo quadro se repetiu na BR-356, que liga Campos a Itaperuna. Não houve confronto.

Em Barra do Piraí, a polícia recolheu mais de 30 foices, enxadas e facões no acampamento do MST, em frente ao local de bloqueio da rodovia. O tumulto começou quando o juiz da 2ª Vara Criminal de Valença, Cláudio Gonçalves, tentou negociar a liberação do carro e foi xingado com palavrões pelos manifestantes. As prisões foram feitas pelos 20 policiais rodoviários e PMs que estavam no local.

Inicialmente foram presos Ana Miranda, diretora estadual do MST; o advogado Francisco Luiz de Val, da Rede de Advogados e Advogadas Populares; e Luiz Antônio Medeiros, motorista de uma Kombi do Sindicato dos Metalúrgicos de Barra do Piraí, ligado à CUT. Os sem-terra foram dispersados com tiros e bomba de gás lacrimogêneo.

Policiais prendem 18 sem-terra em acampamento

Quando a tropa de choque da PM chegou ao local, os primeiros presos já tinham sido levados para a delegacia. Os soldados entraram no acampamento e prenderam mais 18 pessoas. Os advogados e líderes do MST protestaram em frente à Delegacia da PF contra as prisões, consideradas por eles arbitrárias. O ato fez parte da jornada nacional de protestos contra a reforma que ameaça os direitos trabalhistas.

- Nós já tínhamos liberado a estrada há muito tempo, conforme combinamos com os policiais rodoviários, e nos retiramos. Os carros dos bombeiros e da polícia continuaram bloqueando a pista quando fomos presos - disse Ana Miranda.

Até à noite, o tráfego não tinha sido normalizado na BR-393. A rodovia, que liga a Via Dutra, em Barra Mansa, à BR-040, em Três Rios, recebe todo o tráfego entre o Sul e o Nordeste do país e tem um movimento de 15 mil veículos por dia. Segundo o coordenador do MST no Sul Fluminense, Guilherme Gonzaga, o juiz Cláudio Gonçalves se apresentou como testemunha.