Título: Força da construção
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 24/05/2007, Economia, p. 23

Setor bate recorde de empregos e vende 20% mais, puxado por crédito, dólar e corte de imposto.

Aindústria da construção civil dá sinais de forte retomada de investimentos este ano, após mais de uma década em estagnação. O novo fôlego se explica por avanço de financiamentos habitacionais, facilidades do crediário, aumento da renda, desonerações tributárias e baixa cotação do dólar, o que atinge diretamente as vendas de materiais de construção e as obras de novos empreendimentos. E, segundo analistas, as perspectivas são positivas: não há ameaças vindas do câmbio e são esperadas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O reaquecimento da construção já teve efeitos no mercado de trabalho. Foram criados, nos últimos 12 meses terminados em abril, 97.098 empregos com carteira assinada. Apenas no mês passado, as vagas formais atingiram 30.887 - 111% a mais do que em abril de 2001, quando cerca de 14.632 pessoas foram contratadas. Trata-se do melhor mês de abril de toda a série histórica do Ministério do Trabalho, iniciada em 1992.

- Até 2005, o país passou por mais de dez anos perdendo empregos. Em 2005, é o início da virada. Em 2006, uma ampliação desse movimento. E isso também é resultado do cenário macroeconômico, com inflação sob controle, e, é claro, de medidas do governo - disse Antonio Carlos Mendes, diretor-executivo do Sindicato da Construção Civil (Sinduscon) do Rio, acrescentando que o setor traz ganhos salariais a seus trabalhadores.

Câmbio ajuda o "consumo formiga"

A boa fase da construção civil trouxe um emprego novo à arquiteta Debora Messer. Desde abril, ela trabalha na construtora CHL, onde responde por quatro projetos imobiliários:

- Estava numa empresa de construção e, um mês depois de buscar uma nova companhia, estava empregada. O setor traz agora oportunidades. Mas é preciso qualificação.

Há outros termômetros, além do emprego. O setor de materiais de construção registra em abril um crescimento de 20% nas vendas do mercado interno frente ao mesmo mês do ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Saldos positivos que vêm ocorrendo há dez meses, lembrou Melvyn Fox, presidente da entidade:

- Com a redução do IPI sobre uma lista de materiais de construção, esse corte foi repassado no varejo. E não houve uma inflação da demanda, beneficiando o consumidor.

O efeito câmbio ajuda, por sua vez, a segurar preços, acrescentou Mendes, do Sinduscon. Até porque, continua ele, alguns produtos - como de derivados de cobre - são cotados do mercado internacional. E preços sob controle - e muitas vezes em queda - estimulam o chamado "consumo formiga", a autoconstrução. Que também ganha força com aumento da oferta de crédito para a compra de material de construção e expansão da massa salarial.

Mão-de-obra requer mais qualificação

Rogério Chor, presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), calcula que de 40% a 50% dos custos do setor vêm dos materiais de construção. Desse total, de 10% a 15% são influenciados pelo dólar.

- A mão-de-obra pode representa o outro montante - disse ele.

Uma observação que fica evidente na inflação do setor. Segundo o Índice Nacional de Construção Civil (INCC) da Fundação Getulio Vargas (FGV), o custo com os profissionais vem pressionando a inflação do setor nos últimos três anos. Em 2004 ficou em 10,94%; no ano seguinte, 6,84%; em 2006, 5,04%; e este ano no acumulado até abril, 1,32%.

Boas notícias devem vir com o PAC, que prevê destinar parte dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) à construção.

- O PAC deve trazer resultados no segundo semestre. Com mais obras, mais empreendimentos e, em conseqüência, mais empregos. Precisamos pensar em qualificar mão-de-obra para um setor que estava parado há muitos anos - afirmou Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Materiais de Construção (Anamaco).

Ontem, o IBGE divulgou a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic) referente a 2005. Segundo o estudo, o setor reduziu suas atividades em 2005, na comparação com 2004. As construções executadas tiveram um decréscimo real de 5,4%. O que pode ser relacionado à desaceleração no ritmo de crescimento do PIB, que passou de 5,7% em 2004 para 2,9% em 2005, segundo o instituto. Na avaliação do IBGE, o ambiente de juros altos afetou as decisões de investimento de empresas e famílias, o que impactou o setor da construção.

O estudo mostra ainda que 105 mil empresas empregavam 1,554 milhão de pessoas com carteira - 27,8% do número dos que dizem trabalhar no setor. Pela Pnad, havia 5,6 milhões de trabalhadores na indústria da construção.