Título: 'O risco-país caminha para os cem pontos'
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 24/05/2007, Economia, p. 24

O aumento das reservas internacionais - hoje em cerca de US$122 bilhões - e os sólidos fundamentos da economia brasileira devem empurrar o risco-Brasil para a casa dos cem pontos no fim do próximo trimestre. Essa é a avaliação de Nuno Camara, economista-sênior para América Latina do Dresdner Kleinwort em Nova York. Segundo ele, os investidores estrangeiros que aplicam hoje no país deixaram de ter uma visão imediatista: não investem mais apenas no mercado financeiro, mas também em imóveis e outros ativos reais. Camara afirma que o país passa por um intenso processo de transformação, "por isso, é hoje uma aposta a longo prazo".

O mercado brasileiro tem experimentado recordes seguidos este ano, com Bolsa acima dos 50 mil pontos, o dólar nos níveis de 2001 e o risco-Brasil nas mínimas históricas, na casa dos 140 pontos centesimais. Parte desse movimento deve-se à especulação em torno da proximidade do grau de investimento (mais elevado nível de classificação de risco, concedido a empresas e países considerados seguros para se investir), embora as agências garantam que esse patamar só deve ser atingido pelo Brasil no ano que vem. Quem tem razão? O mercado ou as agências?

NUNO CAMARA: É tudo uma questão de fundamento. O Brasil tem feito o dever de casa, por isso, desde o ano passado, apostávamos que o grau de investimento chegaria este ano. A questão é que as intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio têm aumentado significativamente o nível das reservas internacionais, que devem chegar a US$160 bilhões no fim do terceiro trimestre deste ano, dobrando em relação aos níveis de janeiro. E esse é um indicador acompanhado pelas agências de classificação de risco. Reservas elevadas representam uma melhora significativa nos indicadores de risco externo do Brasil. O risco-país deve acompanhar esse movimento e cair cerca de 40 pontos até o fim do próximo trimestre, caminhando para os cem pontos centesimais.

Esse é um nível sustentável para o risco?

CAMARA: Sem dúvida. O país passa hoje por um intenso processo de transformação do qual é difícil retroceder. Não há riscos visíveis para este círculo virtuoso, tanto do ponto de vista externo quanto do interno. Por isso, o Brasil é hoje uma aposta a longo prazo para os investidores estrangeiros. O país amadureceu. A inflação tem se mantido baixa, a compra de máquinas e equipamentos deve continuar crescendo, acompanhando a expansão econômica. Esse quadro tende a gerar mais consumo e redução da desigualdade, bem como maior acesso a crédito e consumo, que alimentam o crescimento. E essa não é uma visão só minha, mas de muitos investidores internacionais.

Quem é esse investidor?

CAMARA: É alguém que não está mais restrito ao mercado financeiro, que não entra no Brasil apenas para tirar partido dos juros altos, mas que compra empresas, imóveis e investe em ações de companhias brasileiras porque acredita no potencial do país.

Investidores brasileiros se perguntam se o mercado vive hoje uma euforia exagerada e se os ativos estão caros. Mas o dólar não encontra fôlego para superar os R$2, apesar das compras diárias do BC, e a Bolsa tem se mantido acima dos 50 mil pontos.

CAMARA: Não estamos preocupados com a apreciação do real. Os fundamentos mostram que o país passa por uma transformação, que os modelos antigos têm que ser revistos, porque o Brasil e o mercado brasileiro caminham para um outro patamar. Por isso, o risco-país continua caindo...

Mas o risco-país de outras economias emergentes também tem recuado.

CAMARA: Sim, por conta da elevada liquidez externa. Mas, quando esse fluxo se reduzir, o processo de amadurecimento do país ficará mais latente, bem como o retrocesso de outras economias na América Latina. E o Brasil despontará como a grande aposta dos investidores internacionais. (Patricia Eloy)