Título: Manifestantes desocupam hidrelétrica no Pará
Autor: Awi, Fellipe
Fonte: O Globo, 25/05/2007, O País, p. 12

Retirada aconteceu depois de negociação com o Exército; invasores querem audiência com Eletronorte e ministério.

ALTAMIRA (PA). Quase 40 horas após a invasão, cerca de 600 manifestantes desocuparam ontem à noite a Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. A retirada aconteceu após a chegada do Exército, que negociou diretamente com os invasores. Filiados ao Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), ao Movimento dos Sem-Terra (MST) e à Via Campesina, eles só saíram depois da promessa de uma reunião hoje com a Eletronorte e com a Secretaria Geral da Presidência e outra quarta-feira, em Brasília, com o Ministério das Minas e Energia.

Vamos sair pacificamente, porque tivemos parte das nossas reivindicações atendidas. Esperamos que agora a nossa pauta seja respeitada - disse o coordenador nacional do MAB, Roquevan Alves, que de manhã ainda ameaçava resistir a uma possível tentativa do Exército de desocupar a usina.

Os invasores querem um projeto de desenvolvimento para as comunidades ribeirinhas atingidas pela construção da barragem, incluindo um suposto acordo com a Eletronorte para a compra de material de pesca e para agricultura familiar.

- A casa dos meus pais foi alagada por causa da hidrelétrica de Tucuruí há anos e até hoje nunca recebemos nenhuma indenização - disse Roquevan.

Tensão após chegada do Exército ao local

Antes do acordo, não faltaram momentos de tensão logo após a chegada das tropas do Exército, de manhã. Os manifestantes fizeram uma barreira humana, se armaram com bombas caseiras para receber os militares e ameaçaram botar fogo em dois carros da Eletronorte. Não houve confronto, mas o Exército tentou tirar pelo menos as crianças que estavam no prédio, pois a situação poderia piorar.

Os manifestantes ainda ameaçavam o corte no fornecimento de energia. A hidrelétrica funcionou normalmente ontem, gerando cerca de 4.500 megawatts de energia.

- Se nós quiséssemos cortar o fornecimento de energia, já teríamos cortado. Só vamos fazer isso se o Exército ou a polícia agirem com violência - afirmou Roquevan, no início da tarde.

Pela manhã, a negociação com o Exército e com a Polícia Federal mostrou-se pouco produtiva. A única providência foi a liberação da troca de turno dos funcionários da hidrelétrica. O Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) informou, por meio de nota à imprensa, por volta das 18 horas, que havia sido acertada a liberação de um funcionário da Eletronorte, empresa que administra a usina. Este funcionário estava "impedido de se ausentar de seu posto de trabalho na usina".

Para deixar a usina, os manifestantes exigiram a presença de autoridades dos ministérios das Minas e Energia, da Casa Civil e da Educação, além da Eletrobrás, da Eletronorte e da Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes). Eles prometeram deixar apenas dez pessoas na sala de comando da hidrelétrica se a chegada desses representantes fosse confirmada para hoje. À noite, com a promessa da reunião, embora não com todas as autoridades exigidas, todos os manifestantes deixaram a hidrelétrica.

COLABOROU: Mônica Tavares, de Brasília