Título: Boa maré de indicadores econômicos não influencia mercado de trabalho
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 25/05/2007, Economia, p. 24

Renda sobe 5% mas desemprego fica praticamente estável, sem novas vagas

Liana Melo

Apesar dos bons ventos que sopram em direção à economia, o mercado de trabalho está se beneficiando apenas parcialmente dos indicadores positivos da macroeconomia. Apesar de a inflação estar sob controle, a balança comercial estar superavitária, a moeda estar valorizada e o risco-Brasil encontrar-se nos mais baixos patamares da história, não houve criação de vagas no país. A taxa de desemprego praticamente não se alterou em abril, mantendo-se em 10,1%, o que significou uma variação substancial em relação aos 10,4% do mesmo período do ano anterior.

A notícia boa é que o rendimento médio mensal, comparado com o mesmo período do ano anterior, cresceu 5% entre a população ocupada. Entre os trabalhadores empregados por conta própria, o aumento da renda foi de 7,4%. O rendimento médio da população ocupada foi de R$1.111,11, em abril.

- O recado do mercado de trabalho é claro. A taxa de crescimento da economia não está sendo suficiente para atender às demandas desse mercado - diagnosticou João Saboia, diretor do Instituto de Economia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ao analisar a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Especialista em mercado de trabalho, Saboia está convencido de que os resultados da pesquisa indicam que o país está conseguindo apenas evitar que o desemprego fique ainda maior do que já está.

- O ano está frio para o mercado de trabalho - admitiu Cimar Azeredo, coordenador da PME. Em abril, a taxa de crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) foi de 3%, enquanto a da população ocupada foi de 3,2%. Isso significa que todos os trabalhadores incluídos na PEA foram absorvidos pelo mercado de trabalho.

Segundo pesquisa, qualidade do emprego melhorou

Apesar de concordar que os reflexos dos indicadores macroeconômicos no mercado de trabalho ainda são tímidos, o economista Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), prefere analisar o desempenho desse mercado em abril por outro ângulo. A melhora na qualidade do emprego é um indicador importante. Caiu de 22,3% para 20,4% o percentual da população ocupada que vive com um rendimento mensal/hora inferior ao do salário mínimo/hora.

A parcela de trabalhadores do setor privado que migrou para o mercado informal sofreu perda no poder de compra em relação a março último. Já os trabalhadores que estão na formalidade (com carteira assinada) apresentaram uma ligeira recuperação do poder de consumo. Os salários dos empregados do setor público apresentaram ganho de 2,4%.