Título: Meirelles defende cautela na ajuda a setores afetados pelo real valorizado
Autor: Duarte, Patricia e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 25/05/2007, Economia, p. 27

Presidente do BC diz que economia vai bem e não se deve mexer no câmbio.

BRASÍLIA. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirmou ontem que o governo deve evitar ações isoladas, beneficiando segmentos específicos afetados pela valorização do real. Segundo ele, é necessário antes avaliar cuidadosamente os rumos da economia. Em audiência no Congresso, Meirelles procurou acalmar a preocupação de parlamentares de que o nível atual do câmbio esteja minando a competitividade de alguns setores produtivos, com a concorrência dos importados.

- O país como um todo está crescendo. Temos de tomar cuidado, ao defender alguns setores, para não prejudicar o todo - afirmou Meirelles.

Segmentos como o têxtil e o calçadista, que sofrem com a invasão de produtos importados, defendem uma intervenção no câmbio. Meirelles, no entanto, argumentou que a desvalorização do dólar não está ocorrendo apenas no Brasil, mas em todo o mundo, devido especialmente ao déficit da balança comercial dos EUA.

De acordo com o presidente do BC, isso significa que os dólares estão se dirigindo a outros mercados, entre eles o próprio Brasil, que vem registrando exportações elevadas, sobretudo de produtos manufaturados:

- A desvalorização do dólar é um fenômeno mundial.

Meirelles reiterou que o BC não tem uma meta de câmbio porque o regime do país é flutuante. Segundo ele, a política de compra de reservas internacionais - hoje acima dos US$120 bilhões - ajuda a melhorar o risco-país e, conseqüentemente, as condições de financiamento, inclusive para o setor privado.

FMI elogia atuação do BC no controle da inflação

Meirelles voltou a dizer que a expansão brasileira se deve, principalmente, ao aumento da renda da população, beneficiada pelo controle da inflação.

A audiência durou três horas e meia e, em alguns momentos, Meirelles se irritou, sobretudo com o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA), que cobrou reduções maiores na taxa básica Selic, hoje em 12,50% ao ano. Meirelles respondeu que é preciso ter responsabilidade na condução da política monetária, lembrando que as manipulações do passado foram péssimas para o país.

Já o representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) no Brasil, Max Alier, disse ontem que o BC faz um bom trabalho em levar a inflação para um "nível de país desenvolvido". Ao deixar o Ministério da Fazenda, onde participou de uma reunião do ministro Guido Mantega com uma missão do Fundo, Alier disse que a atual situação cambial é resultado dos bons fundamentos da economia e não prejudicará o crescimento em 2007.