Título: Bush vence oposição e leva dinheiro para guerra
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Fonte: O Globo, 25/05/2007, O Mundo, p. 29

Presidente derrota resistência democrata na Câmara e consegue US$100 bilhões para conflitos em Iraque e Afeganistão.

Iraque

WASHINGTON

Depois de quatro meses de impasse, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, conseguiu ontem uma importante vitória política contra a oposição. A Câmara dos Representantes aprovou ontem à noite uma dotação de US$100 bilhões para as guerras no Iraque e no Afeganistão. Com isso, ele deve conseguir os fundos necessários para continuar os combates sem data-limite para a retirada das tropas, como queria o Partido Democrata. O texto foi enviado para o Senado.

Os deputados aprovaram, por 280 a 142, um orçamento que, além de financiar as guerras, destina também US$20 bilhões a outros fins, como o aumento no salário mínimo. Além disso, o presidente deverá cumprir metas no Iraque, mas analistas dizem que mesmo que ele não tenha sucesso, não há via legal para cortar a remessa.

Por sua vez, Bush afirmou ontem que os americanos devem se preparar para um aumento na violência dos combates.

¿ Agosto pode ser sangrento, pode ser muito difícil ¿ disse Bush, numa entrevista coletiva na Casa Branca.

Segundo o presidente americano, guerrilheiros iraquianos e terroristas da al-Qaeda podem aproveitar que um dos pontos do acordo entre a Casa Branca e membros dos partidos Democrata e Republicano é a exigência de que até setembro sejam atingidas algumas metas, como o aumento da segurança em Bagdá. Para Bush, isso poderia provocar ataques a fim de influenciar o debate político nos EUA.

Bush concedeu a entrevista pela manhã. Isso talvez tenha colaborado para ele ter claramente tentado evitar adotar um tom triunfante em suas respostas.

Deputados democratas discordam de acordo

Nos EUA, o presidente tem o posto de comandante-em-chefe das Forças Armadas, mas precisa de autorização do Congresso para declarar guerras e para financiá-las uma vez começadas. O Partido Democrata conseguiu aprovar medidas que obrigariam o governo a retirar todas as tropas do país até setembro do ano que vem, mas elas foram vetadas pelo presidente. Sem condições de derrubar os vetos ¿ seriam necessários dois terços dos votos na Câmara e no Senado ¿ os democratas decidiram aprovar o orçamento militar, impondo apenas algumas metas.

Entre elas, Bush terá que relatar ao Congresso os avanços em 18 temas relativos às operações no Iraque nos dias 15 de julho e 15 de setembro. Entre os assuntos sobre os quais os parlamentares exigem progressos estão leis que distribuam os ganhos do petróleo pelas diferentes regiões do Iraque, o desarmamento das milícias e a melhora das forças de segurança iraquianas.

O recuo dos democratas acabou provocando reações de deputados do partido que discordaram da forma como a negociação terminou. Muitos se recusaram ontem a votar na medida. Entre eles, a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, que votou contra:

¿ Este é um pequeno passo. Em vez disso deveríamos ter dado um passo gigante numa nova direção.

O senador democrata Russ Feingold também é contra o acordo.

¿ Já é ruim o presidente mais uma vez não levar em consideração o povo americano e promover uma escalada no nosso envolvimento no Iraque. Agora, o Congresso parece também ignorar o povo.

Uma pesquisa divulgada ontem pelo ¿New York Times¿ mostra que 72% dos americanos acham que a guerra está sendo travada da maneira errada, e 61% acreditam que o país não deveria ter invadido o Iraque.