Título: Tensão, excitação e espera
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 26/05/2007, O Globo, p. 2

É cedo para saber o que acontecerá nos próximos dias, em função das revelações da revista "Veja" sobre a proximidade entre o senador Renan Calheiros e outro lobista de empreiteira. Por ter a reportagem alcançado o que Renan chamou de sua "mais íntima privacidade", aliados e adversários evitaram comentá-la. Renan é um aliado importante demais para o governo não se importar com seu destino. Mas, ainda assim, a bomba não parece ter potencial para implodir a coalizão.

Ainda puderam ser aferidas as reações dos senadores. Ontem, uma Casa vazia recebeu a nota de Renan. Ficarão eles satisfeitos como as explicações, ao ponto de ninguém entrar com uma representação no Conselho de Ética? Terá a revista novas revelações a fazer? Como se comportará a oposição? Que fará um governista imprevisível, como Eduardo Suplicy? Todas essas perguntas só terão respostas na semana que vem. O senador Heráclito Fortes, da oposição (DEM), pediu cautela lembrando que "a hora é de terrorismo". Pedro Simon (PMDB), tão visceralmente e exigente em questões de ética, foi cauteloso, dizendo esperar que Renan tudo explique. Menos compassivo foi outro falcão da Casa, Jefferson Peres (PDT), embora se dispondo a esperar.

A intimidade dos políticos nunca foi objeto de bisbilhotice entre nós. Filhos fora do casamento outros políticos já tiveram, e não foram por isso incomodados. Mas, se há promiscuidade entre o público e o privado nessa ocorrência, o assunto é de interesse público, diz com meia-razão a revista. Meia porque, no caso, afirmou, mas não provou, que a empreiteira pagou pensão a uma filha do senador, bancou o aluguel da mãe da menina e ainda cedeu um flat para Renan usar em reuniões discretas. As explicações de Renan também são incompletas. Ele afirma nunca ter recebido recursos ilícitos e que terceiros nunca bancaram gastos seus ou de seus familiares. Não aponta, porém, a origem de seus recursos, já que seus vencimentos de senador seriam insuficientes para tanto. A pensão e o aluguel consumiriam R$16,5 mil mensais.

Até anteontem, ele se queixava da PF, do vazamento de informações da Operação Navalha, com o intuito de associá-lo ao dona da construtora Gautama. Dizia entrever dedos do PT e do PMDB, por inveja de sua influência no governo. A "Veja", entretanto, não é amiga do PT nem do PMDB para lhes fazer esse favor.

Uma das hipóteses é que o Senado se mostre complacente. Ali, governo e oposição já se entendem para evitar uma CPI da Navalha, que poderia ferir a todos. Outra, é a de que a situação de Renan se complique e ele tenha que se licenciar ou até renunciar. Ontem, no Itamaraty, o presidente Lula não chegou a solidarizar-se mas defendeu seu direito à explicação antes da condenação. O ministro Mares Guia telefonou. Outros teriam sido instruídos a mostrar que ele não foi abandonado. Mas, se a situação se complicar, diz um desses governistas, não será uma tragédia. O PMDB não vai deixar o governo por isso. Mas, certamente, a coalizão fica abalada.

Nas poucas e reservadas conversas que teve, Renan teria dito, em tom velado de ameaça, que era hora de passar a limpo as relações entre todos os políticos e todas as empreiteiras. Seria muito bom. Sobrariam ruínas.