Título: PF: novo inquérito para apurar fraudes na BA
Autor: Peña, Bernardo de la e Leali, Francisco
Fonte: O Globo, 26/05/2007, O País, p. 8

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: Delegado teria vazado informações; políticos do estado podem estar envolvidos.

Por determinação do STJ, empresário da área de segurança privada e de prestação de serviços terceirizados é investigado.

BRASÍLIA. Por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Polícia Federal abriu inquérito para apurar a atuação de outro grupo responsável por um segundo esquema de fraudes em licitações na Bahia, que atuava em paralelo ao desmontado pela Operação Navalha. O principal alvo da nova investigação é o empresário baiano Clemilton de Andrade Rezende, dono de empresas na área de segurança privada e de prestação de serviços terceirizados.

No dia 10 de maio, a ministra Eliana Calmon, do STJ, decidiu separar as duas investigações. A atuação de Clemilton junto ao governo da Bahia e seu relacionamento suspeito com policiais federais também são objetos da investigação, que pode envolver políticos do estado. Foi com base na apuração sobre as fraudes em licitações na Bahia, batizada pela PF de Operação Octopus, que teve origem a investigação que resultou na prisão de Zuleido Veras, dono da Gautama.

Embora fosse mais antiga, a Octopus não foi concluída porque houve vazamento de informações. Por intermédio dos policiais investigados, os empresários do setor souberam que estavam na mira da PF. Com isso, a operação parecia ter sido adiada. Mas, a decisão da ministra revela que o assunto é prioridade. Em seu despacho, Eliana Calmon explica que a identificação de dois grupos só foi possível durante as investigações.

Clemilton já sabe há dois anos que é investigado pela PF. Segundo o relatório produzido pela Diretoria de Inteligência da PF, o delegado federal João Batista informou, no dia 26 de agosto de 2005, a Clemilton, que faria parte de um grupo de empresas chamado pela PF de G-8, sobre operação policial que seria desencadeada para repressão a empresas de vigilância clandestina em Salvador. Em troca das informações, o delegado receberia de Clemilton, ou do grupo, "passagens aéreas, hospedagem e carro à sua disposição e de sua família, quando de suas estadas em Salvador em novembro de 2005", segundo a PF. As informações foram obtidas em escutas telefônicas.

Delegado teria avisado sobre grampo a empresário

Com base nas escutas nos telefones de Clemilton foi constatado que Batista teria lhe avisado sobre a Octopus e que ele seria um dos alvos da investigação. O delegado avisou que os telefones de Clemilton estavam grampeados. "Tal áudio foi produzido porque o empresário desconhecia que estava sendo monitorado e que seria possível ser captado o som ambiente quando está sendo tentada uma ligação", destaca o relatório.

O advogado de Clemilton, Gilberto Vieira, disse que seu cliente não sabia da existência do processo, mas se colocou à disposição da polícia e da Justiça. Na quinta-feira, os advogados pediram que Eliana Calmon autorizasse acesso a cópias do inquérito. Segundo o advogado, Clemilton e seus familiares vão entregar os seus passaportes à PF e, a partir de segunda-feira, toda a documentação de suas empresas estará disponível para ser analisada pelos policiais. O objetivo é evitar que a prisão seja decretada.