Título: Síndrome do grampo se dissemina em Brasília
Autor: Tavares, Mônica e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 26/05/2007, O País, p. 9

Políticos evitam conversas telefônicas.

BRASÍLIA. As conseqüências políticas da divulgação de conversas gravadas nas operações Hurricane e Navalha atiçaram novamente o medo do grampo nas estruturas de poder em Brasília. Políticos, advogados, lobistas, procuradores e policiais, entre tantos outros profissionais, estão cada vez mais cautelosos e enigmáticos em conversas por telefone. A sensação é que todos, investigadores ou potenciais investigados, têm receio de ser alvo de escutas, legais ou não.

- Há banalização das gravações no Brasil. É um momento muito grave, muito delicado na história do país - afirma Antônio Carlos de Almeida Castro, um dos advogados mais requisitados em cada nova operação da PF.

Segundo o advogado, a paranóia do grampo está tão disseminada que, no últimos tempos, alguns clientes compram celulares novos para os advogados só para não terem conversas gravadas. Castro disse que está tendo que aumentar, em pelo menos três vezes mais, o número de viagens que faz a cada mês, para conversar pessoalmente sobre conteúdo de processos. Ele acrescenta que, por telefone, só fala sobre aspectos superficiais dos casos.

- Eu conheço muita gente que não fala de jeito nenhum por telefone celular - diz Almeida Castro

O líder do PR na Câmara, deputado Luciano Castro (RR), tem a mesma preocupação. Para ele, o receio de estar sendo grampeado é ainda mais intenso nos corredores do Congresso:

- Todos os deputados e senadores acham que estão sendo grampeados.

Castro diz que não atende celular. Segundo ele, essa é uma tarefa exclusiva de sua secretária. Cabe a ela receber e fazer as triagens das ligações. Ele tem receio de que suas conversas sejam gravadas e, depois, mal interpretadas. A paranóia do grampo é recorrente. Em 2003, o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, criou comissão especial para elaborar projeto de lei que restringisse o uso do grampo.

A proposta, que previa até a punição de jornais e jornalistas que divulgassem conteúdo de grampo legal, acabou sendo arquivada na Casa Civil. O projeto foi considerado uma espécie de censura.