Título: Especialistas defendem conduta da PF
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 26/05/2007, O País, p. 10

Professor e jurista dizem que críticas partem de envolvidos com o esquema.

SÃO PAULO. A mobilização no Congresso, no Judiciário e no governo contra possíveis excessos da Polícia Federal na Operação Navalha foi criticada por dois dos principais especialistas nas áreas de direito e ética do país. O professor de filosofia e ética da Unicamp, Roberto Romano, e o jurista Dalmo Dallari afirmam que a preocupação sobre o trabalho dos agentes federais parte de quem teria seu nome envolvido no esquema ou, então, teme ser enquadrado em novas ações policiais.

- Essa grita não passa de jogo de cena, principalmente dos que temem ser atingidos e podem ser presos amanhã - disse Dallari, que associa o protesto contra o trabalho da PF principalmente aos advogados de defesa dos acusados. - O problema é que muitos desses advogados têm relação em vários setores - disse.

Roberto Romano concorda:

- Nessas investidas da polícia, no mínimo 70% dos que foram implicados têm alguma coisa a responder diante da Justiça e da sociedade. E aí chega a hora de essas pessoas alegarem que estão sendo perseguidas, seja pela PF, pela imprensa ou pelo Ministério Público. De tanto usar esse subterfúgio sobre fatos verdadeiros, eles começam a justificar o que fizeram com cinismo.

Romano disse que, em meio aos acusados, principalmente figuras de alto escalão, foi-se estabelecido uma espécie de salvo-conduto coletivo:

- O problema é que eles já partiram de salvo-conduto para a delinqüência, que é o privilégio de foro, o que permite que façam coisas horríveis do ponto de vista das conseqüências éticas, econômicas e políticas.

Dallari considerou abusiva apenas a apresentação dos acusados com algemas:

- Só se deveria usar algemas quando se trata de preso violento ou quando há risco de fuga.

Sobre os parlamentares que tentam restringir a divulgação de dados da investigação, Romano é enfático:

- Isso é tirania. Exigem para si o privilégio do foro e o segredo no andamento das coisas públicas. São esses que defendem a Lei da Mordaça.