Título: Lula: 'Se não querem ser molestados, não errem'
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 26/05/2007, O País, p. 10

DINHEIRO PÚBLICO NO RALO: PF tem função nobre e vai continuar combatendo corrupção, doa a quem doer, afirma.

Presidente diz que determinou a Tarso Genro que os policiais contenham o excesso, sem prejudicar apurações.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a atuação da Polícia Federal e afirmou que quem não quer ser molestado não deve cometer irregularidades. Lula condenou os excessos em investigações, citando o vazamento de informações e eventuais atos truculentos, mas afirmou que a Polícia Federal e o Ministério Público vão continuar apurando denúncias de desvio de recursos públicos, a exemplo do que ocorre na Operação Navalha.

- A Polícia Federal tem uma função nobre no país e vai continuar combatendo a corrupção, doa a quem doer. Se as pessoas não quiserem ser molestadas, não pratiquem nenhum erro que não serão molestadas - afirmou Lula, depois do almoço oferecido ao presidente do Panamá, Martín Torrijos.

Embora tenha criticado os exageros, Lula disse que a Polícia Federal atua com base em decisões da Justiça. Segundo Lula, ninguém vai cercear o trabalho de combate à corrupção, mas é preciso que as pessoas, ao serem presas, sejam tratadas adequadamente, sem excessos.

- A Polícia Federal, ao fazer as suas investigações, precisa respeitar o estado de direito. Não pode haver ato que seja exagerado. Ela só pode prender com autorização judicial. Não é uma decisão da própria da Polícia Federal. Você não precisa algemar as pessoas, não precisa arrebentar a porta de ninguém.

Lula disse que anteontem determinou ao ministro da Justiça, Tarso Genro, que é preciso conter os exageros nas condutas dos agentes, mas sem prejuízo à apuração da corrupção. Para Lula, a PF e o Ministério Público são instituições que merecem respeito e consideração da população:

- Eu, por exemplo, acho que, quando está num processo de investigação, você não pode ficar vazando notícias antes que termine o processo, a investigação. Senão, você execra as pessoas primeiro pelas manchetes dos jornais para depois as pessoas serem inocentadas e ninguém publicar o ato de inocência dessas pessoas.

O presidente evitou comentar as denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), limitando-se a dizer que não faria julgamento com base somente em uma notícia:

- Aprendi que pobre de quem fizer julgamento de alguma pessoa por uma matéria. Essas coisas têm que ter uma investigação, uma chance daqueles que são acusados prestarem as suas explicações. Senão, estaremos banindo do país uma conquista que foi nossa.

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), descartou que a proposta de punição dos responsáveis por vazamentos de informações em inquéritos sigilosos, que defendeu, seja uma reação à operação da PF.

- Não podemos, neste momento, passar a idéia de que alguém não esteja contente com o trabalho feito pela PF. O problema é outro, são os vazamentos que ferem os direitos individuais - disse Chinaglia.

Tarso Genro disse que o vazamento será investigado:

- À medida que eu receber qualquer solicitação, será feita a investigação. Até agora não recebi nenhum pedido formal, a não ser um pedido da OAB, no começo da operação, para nós examinarmos alguns procedimentos. Isso já estamos.

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COLABOROU: Adauri Antunes Barbosa