Título: Câncer: pesquisa revela o que o brasileiro sabe
Autor: Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 26/05/2007, O País, p. 14

População conhece elo entre cigarro e tumores. Mas há pouca informação sobre riscos do sexo inseguro.

Quase toda a população das grandes capitais brasileiras sabe que o tabagismo está relacionado ao câncer, bem como que sol em excesso pode ser determinante no surgimento de tumores malignos. O conhecimento é bem menos difundido, no entanto, quando se fala em hábitos alimentares pouco saudáveis, sexo sem proteção e falta de atividade física, indicando a necessidade de um novo enfoque para a prevenção.

As conclusões são fruto da primeira análise do conhecimento dos brasileiros sobre a doença, feita pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). A pesquisa foi realizada durante o mês de maio em sete capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, João Pessoa e Goiânia) com 2.100 pessoas acima dos 16 anos. A idéia é ampliar o estudo nos próximos meses.

- Queríamos descobrir o que as pessoas sabem - resumiu o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini. - Fazemos muitas campanhas, fornecemos material educativo há muitos anos, e sempre nos perguntávamos se as pessoas estavam de fato compreendendo a nossa mensagem. Esses dados vão nos orientar nas próximas campanhas de prevenção.

A pesquisa mostrou que a população está muito bem informada sobre o fumo como fator de risco. Em Florianópolis, Porto Alegre, João Pessoa e Goiânia 100% dos entrevistados relacionaram o tabagismo ao aumento do risco da doença. Esse percentual é de 98,5% no Rio de Janeiro, 97% em São Paulo, e 96,2% em Belo Horizonte. De fato, a grande maioria dos casos de câncer de pulmão (90%) está relacionada ao tabagismo.

A população também reconhece os danos ligados às bebidas alcoólicas. No Rio, 90% dos entrevistados associaram o consumo excessivo ao câncer. O menor conhecimento sobre a associação ocorreu em Porto Alegre, 66,7%. Também é alta a conscientização sobre o desenvolvimento da doença e a exposição ao sol. Em Porto Alegre e João Pessoa 100% conhecem esse risco. A menor associação foi feita pela população de Goiânia: 90%.

Outros fatores de risco, no entanto, como alimentação inadequada, falta de atividade física e relações sexuais sem preservativo, não são ainda tão bem conhecidos. Em Goiânia, 60% dos entrevistados não acreditam que a falta de atividade física possa estar ligada ao câncer. E apesar de o câncer de colo de útero estar estreitamente ligado à infecção pelo vírus HPV - de transmissão sexual - 53,8% dos entrevistados em Belo Horizonte não sabem que não usar preservativo aumenta o risco de contrair a doença. No Rio, esse percentual é de 42%. O câncer de colo de útero é o segundo mais freqüente entre as mulheres brasileiras: são mais de 19 mil casos por ano.

Para Santini, a relação entre fumo e câncer, ou entre excesso de sol e câncer, é mais explícita, de compreensão mais imediata. No caso de outros fatores de risco, a relação é menos evidente.

- São mensagens mais difíceis de transmitir porque não se consegue perceber uma relação de causa e efeito tão direta - avalia Santini. - Além disso, esses outros fatores de risco são fruto de conhecimento mais recente.

Avanços no tratamento são pouco conhecidos

O estudo mostra também que, apesar dos avanços significativos feitos no tratamento, para 80% dos entrevistados no Rio, o câncer é associado à morte ou dor.

- As pessoas ainda relacionam o câncer somente à idéia de sofrimento e dor. Há pouca associação com a possibilidade de cura, embora reconheçam que existe essa possibilidade. As pessoas sabem que é possível tratar, mas não têm muita esperança no tratamento - resume Santini. - É importante informar melhor sobre isso. A população precisa saber que o tratamento da doença evoluiu muito ao longo desses 70 anos. A doença não é mais sinônimo de morte - acrescentou o médico, referindo-se à data de fundação do Inca.

A meta agora é buscar uma informação ainda mais refinada, por faixa etária, região e sexo, para elaborar campanhas de informação mais específicas.