Título: Cresce operação-abafa contra CPI da Navalha
Autor: Camarotti, Gerson e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 27/05/2007, O País, p. 11

Parlamentares que temem investigação ameaçam ampliar foco da comissão para intimidar colegas no Congresso.

BRASÍLIA. A operação-abafa da nova crise política parecia destinada ao fracasso, mas voltou a ganhar força no Congresso anteontem, a partir das novas denúncias contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Com a possibilidade concreta da instalação de uma CPI mista para aprofundar as investigações da Operação Navalha, políticos citados no escândalo iniciaram, nos bastidores, uma onda de ameaças veladas, e até de chantagens, que poderá resultar num grande acordão entre os principais partidos.

O primeiro objetivo é impedir a instalação da CPI mista da Navalha, que já conta com assinaturas suficientes de senadores, mas ainda depende da adesão de 20 deputados. Se isso for impossível, a ordem é ter o controle absoluto da CPI. Como a investigação da Polícia Federal atinge políticos dos principais partidos - PMDB, PSDB, DEM, PT, PSB e PDT - o clima é de intimidação na Câmara e no Senado.

Renan partiu para o ataque. Forçado a dar explicações diárias sobre a relação com o empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautama, pivô da Operação Navalha - e agora com Cláudio Gontijo, assessor da construtora Mendes Junior-, ele passou a mandar recados para os políticos.

- Vou passar o país a limpo! - avisou Renan, em conversa com um aliado.

As palavras intimidadoras de Renan foram amplificadas rapidamente nos corredores e gabinetes do Congresso, criando um clima de apreensão. O recado dele é claro: não será um bode-expiatório da nova crise. Avisou que não vai aceitar que se investigue apenas a Gautama e a Mendes Junior.

- Se os parlamentares querem discutir a relação entre os políticos e as empreiteiras, acho um ótimo debate! Mas será com todos os empreiteiros e com todos os políticos - avisou Renan, em mais de uma ocasião nos últimos dias, segundo relato de amigos e aliados.

Líderes tentam evitar o pedido na Câmara

Embora o pedido de criação da CPI da Navalha já tenha assinaturas de 29 senadores (duas a mais do que o necessário), líderes aliados, com PMDB e PT à frente, operam para que não se alcance as 171 assinaturas de deputados.

Não é só Renan que age para baixar a temperatura no Congresso. Semana passada, o senador José Sarney (PMDB-AP) fez uma forte articulação política nesse sentido. Há um temor de que a família do ex-presidente seja atingida. Até na oposição do Senado o clima é de cautela: o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), que teve o sobrinho, o deputado Paulo Magalhães (DEM-BA), citado nas investigações, tentava evitar a CPI, assim como setores do PSDB.