Título: Servidores têm alto padrão de vida
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 27/05/2007, O País, p. 12

Suspeitos de participar de fraudes são proprietários de imóveis luxuosos

MACEIÓ. Ao cumprirem os mandatos de prisão da Operação Navalha, no último dia 16, em Alagoas, os agentes da Polícia Federal tiveram uma pequena mostra do alto padrão de vida dos funcionários do governo do estado acusados de participarem do esquema de fraudes a licitações comandado pela empreiteira Gautama. O patrimônio construído ao longo dos últimos anos pelos quatro servidores investigados pela PF salta aos olhos. Informações dos agentes federais e documentos levantados pelo GLOBO em cartórios de Maceió revelam que, apenas na capital alagoana, eles possuem ao menos 25 imóveis e terrenos. Somados, os valores de mercado desses bens se aproximam de R$4 milhões.

O caso que mais chama a atenção é o de Adeilson Teixeira Bezerra, secretário estadual de Infra-estrutura, acusado de receber R$140 mil de propinas das mãos de Zuleido Veras, dono da Gautama. Natural de Palmeira dos Índios, no interior do estado, chegou a cantar em churrascarias antes de iniciar sua carreira política a partir do movimento estudantil. Apadrinhado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e por seu irmão, o deputado Olavo Calheiros, Adeilson teve uma ascensão meteórica e comandou, durante quase 12 anos, por indicação dos Calheiros, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de Alagoas.

Adeilson vive hoje no condomínio mais luxuoso de Maceió, o Aldebaran, onde, segundo imobiliárias consultadas pelo GLOBO, uma casa pode custar entre R$500 mil e R$900 mil. No Aldebaran, os funcionários são levados e trazidos de casa para trabalhar em microônibus, e os moradores têm, à disposição, um centro comercial próprio e até uma igreja, localizada na praça entre os três blocos de casas batizados com letras do alfabeto grego: alfa, beta e ômega.

Também no Aldebaran mora, segundo a PF, Márcio Fidelson Menezes, que antecedeu Adeilson na Secretaria de Infra-estrutura e é acusado de liberar pagamentos indevidos à Gautama em troca de comissões. Ex-funcionário da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Alagoas, Menezes já foi prefeito do município de Maravilha e tem um padrinho político de peso: o presidente da Assembléia Legislativa do estado, Antônio Albuquerque (DEM), de quem é cunhado.

Suspeito tem dois terrenos e pelo menos seis casas

Acusado pela PF de tentar antecipar à Gautama pagamentos por serviços não executados, o diretor de obras da secretaria, José Vieira Crispim, é um dos suspeitos que mais acumulou patrimônio. Certidões obtidas no 1º Registro de Imóveis de Maceió mostram que Crispim, engenheiro e ex-professor, é dono de dois terrenos e de pelo menos seis casas de dois andares em um condomínio no bairro de Barro Duro. Um dos imóveis está à venda por R$63 mil. Crispim teve uma passagem conturbada pela diretoria do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do estado, onde foi acusado de irregularidades, mas não foi condenado.

A lista dos servidores suspeitos da secretaria devassada pela PF também inclui o engenheiro Denisson de Luna Tenório. Pouco conhecido no meio político alagoano, Denisson tirou grande parte de sua riqueza da construtora DLT (suas iniciais), da qual é proprietário. Apesar do sucesso na carreira privada, afastou-se da empresa para assumir a Subsecretaria de Infra-Estrutura. É acusado no relatório da Operação Navalha de receber "vantagens indevidas" para emitir pareceres favoráveis à Gautama, como o que permitiu que a empresa de Zuleido Veras recebesse, em julho do ano passado, R$2,5 milhões do governo alagoano.

De acordo com o registro de imóveis de Maceió, Denisson é dono de dois terrenos, um pequeno centro comercial e de dois apartamentos de luxo na orla da cidade, localizados no bairro de Ponta Verde. Um deles, um apartamento duplex no Edifício Murano, está avaliado em cerca de R$600 mil. O imóvel, de 418 metros quadrados, tem quatro quartos, churrasqueira, piscina com deck.

PF diz que subsecretário atuava como lobista

Mesmo com tantos recursos, Denisson, segundo a PF, recebia da Gautama passagens aéreas para defender, em Brasília, os interesses da empresa. De acordo com os investigadores, o subsecretário atuava como lobista da Gautama nos ministérios da Integração Nacional e do Planejamento, onde tentava liberar recursos para a obra de abastecimento de água de Maceió, o Sistema Pratagy, cujos contratos somam R$178,6 milhões. (Alan Gripp)