Título: Dia decisivo
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 28/05/2007, O Globo, p. 2

O discurso que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fará hoje, para tratar de aspectos de sua vida pessoal, terá desdobramentos políticos. Se ele não for convincente, a oposição vai comemorar, pois se abrirá um processo de sucessão no Senado. Se convencer, o governo respira aliviado, apesar da irritação do senador com o que considera excessos da Polícia Federal.

As histórias de conspiração estão à solta no mundo político. Entre os senadores, o que se diz é que em função da vida pessoal do presidente do Senado pode ocorrer um abalo na estreita maioria parlamentar governista naquela Casa. Caberá à oposição, que nas eleições de fevereiro teve 28 votos para a presidência do Senado, decidir o que fará. Mesmo que Renan consiga comprovar que tem rendimentos capazes de cobrir suas despesas, ainda assim a oposição poderá fustigá-lo com sua vida pessoal e manter viva a suspeita de que recebia dinheiro de uma empresa privada para arcar com parcela de seus gastos pessoais.

- Acho que no Senado não há espaço para explorar fatos da vida pessoal. O que ocorreu no caso do ex-ministro Antonio Palocci não deve se repetir, até porque não estamos em ano eleitoral - diz a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), referindo-se ao fato de o ex-ministro não ter revelado fatos de sua vida pessoal e ter pedido demissão (em 2006) depois que instituições subordinadas a ele, no Ministério da Fazenda, cometeram o crime de quebrar, de forma ilegal, o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

No fim de semana, Renan conversou com o senador José Sarney (PMDB-AP) e com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), sobre o discurso que fará hoje. O objetivo é esclarecer tudo, inclusive que o dinheiro para pagar uma despesa com pensão alimentícia saía de sua conta corrente. Para colocar um ponto final nas especulações, Renan pretende receber o apoio da maioria da Casa enquanto estiver na tribuna. Ele passou as últimas horas pedindo, por telefone, que os senadores estejam hoje no plenário para ouvir suas explicações. A palavra está com o presidente do Senado, mas seu futuro depende de como a Casa, sobretudo a oposição, vai reagir ao seu discurso.

Frase da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva: "Sou muito cautelosa. Aprendi que não basta ser honesto nem parecer honesto, é preciso provar na Justiça que é honesto".