Título: Hospital fecha emergência
Autor: Amora, Dimmi e Belmont,Mariana
Fonte: O Globo, 28/05/2007, Rio, p. 8

Médicos, muitos terceirizados, reclamam de salários atrasados.

Os problemas envolvendo a contratação de terceirizados ainda estão longe de acabar. A emergência do Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, foi fechada na tarde de sábado para o atendimento de novos pacientes. A maioria dos médicos da unidade foi contratada sem concurso público. Muitos não estavam no plantão, alegando que não recebem os salários.

Na porta da unidade, um cartaz dizia: "Hospital fechado. Sem salário, sem exames, sem médicos, sem condições (população em risco)". O texto foi escrito atrás de um boletim médico e era assinado e carimbado por Rogério Neves Mota, que se identificou como médico da unidade. Ontem de manhã, o hospital funcionava normalmente, mas ainda com carência de material para cirurgias.

'Não sei mais a quem recorrer', diz mãe de paciente

Segundo um funcionário, que pediu para não ser identificado, no sábado, a unidade não tinha anestesista, ortopedista, clínico ou cirurgião. Também não havia medicamentos básicos, como cloreto de sódio, usado na reidratação de pacientes.

- A unidade praticamente não tem médicos concursados. Eu não recebo salário há três meses. Estou deixando hoje o plantão e não volto mais - comentou um médico, que saía ontem de manhã.

Pacientes não falaram com jornalistas, com medo de represálias.

- Hoje, temos anestesista, por exemplo, mas o centro cirúrgico está parado por falta de material - comentou um outro médico.

No Hospital Pedro II, em Santa Cruz, pacientes da pediatria e da ortopedia eram encaminhados para postos da região, porque não havia médicos das especialidades.

- Sábado, estive no Rocha Faria, em Campo Grande, onde moro, e também não consegui atendimento para a minha filha. Mandaram que eu viesse aqui. Não sei mais a quem recorrer - disse, sem se identificar, a mãe de uma menina que estava com febre e hematoma no rosto. - Ela delirou de febre e caiu da escada.

Ontem, no Rocha Faria, o atendimento estava normalizado. A situação nos hospitais estaduais levou o governador Sérgio Cabral a decretar estado de emergência no início da sua gestão. Na época, ao visitar o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, ele classificou o que viu de "genocídio".

A assessoria da Secretaria estadual de Saúde afirmou que os salários de abril só deverão ser depositados amanhã. O atraso ocorreu porque, em março, o governo passou a pagar diretamente às cooperativas, economizando R$3 milhões por mês. Antes, o pagamento de R$14 milhões por mês era feito à ONG Pró-Cefet, que repassava os recursos às cooperativas. A secretaria informou que a Central Geral de Abastecimento receberia medicamentos para abastecer todos os hospitais por 180 dias e que vai economizar R$100 milhões por ano terceirizando o serviço laboratorial. A promessa é de que, até o segundo semestre, sete mil novos profissionais de saúde sejam convocados.