Título: Cm real em alta, fundos em dólar e euro são a pior aplicação do mercado
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 28/05/2007, Economia, p. 18

Perda em rendimento e captação faz analistas indicarem renda fixa e Bolsa.

Na esteira das fortes perdas registradas pelo dólar e pelo euro este ano - o primeiro recuou 8,61% e o segundo, 6,57% frente ao real -, os fundos cambiais tiveram pesados resgates e acumulam, desde janeiro, a pior rentabilidade da indústria de fundos. E a tendência é de que esse movimento continue. Por isso, mesmo para quem tem dívidas em moeda estrangeira (para quem esse tipo de aplicação era tradicionalmente indicada), já há analistas que recomendam como alternativa fundos de renda fixa ou de ações.

Em 2007, os fundos atrelados ao dólar recuam 7,07% e os ao euro, 5,84%, de acordo com dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) até o dia 21 deste mês. Diante da queda das moedas, o patrimônio também encolheu: nos fundos que acompanham o dólar, os resgates somam R$548 milhões nos últimos 12 meses. Para se ter uma idéia do que isso representa, o patrimônio total desse tipo de fundo é hoje de R$864 milhões. Nos que são ligados à variação do euro, que têm patrimônio de R$45,7 milhões, as perdas foram de R$9 milhões no período.

- Há anos recomendamos esse tipo de aplicação para quem tem dívidas em moeda estrangeira e pretende proteger seu patrimônio das oscilações do câmbio. Mas, diante das perdas que esses fundos vêm registrando e do juro ainda elevado, essa se torna uma opção cada vez menos interessante. Ao aplicar em fundos de renda fixa, por exemplo, o investidor teria um ganho muito superior - pondera Renato Ramos, diretor de Renda Fixa da HSBC Investments.

Grau de investimentodeve valorizar o real

Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez, explica que os fortes saldos comercial e financeiro mantêm a expectativa de queda do dólar e do euro pelo menos até o início do ano que vem. E, nesse ritmo, a moeda americana pode chegar perto de R$1,80 nos próximos meses:

- Além do saldo comercial, é preciso considerar que o Brasil caminha para o chamado grau de investimento (nota dada pelas agências de classificação de risco a países considerados seguros para investir). Antecipando esse movimento, os investidores estrangeiros têm inundado o país de dólares e euros, aumentando o fluxo cambial e reforçando a tendência de queda para as moedas frente ao real - explica Paiva.

Mário Carvalho, diretor de Gestão de Asset Management do banco WestLB, acredita que o dólar, que fechou na última sexta-feira a R$1,953, pode chegar a R$1,75 até o início do ano que vem.

- O real deve continuar se valorizando frente ao euro e ao dólar. É isso que os fundamentos econômicos indicam hoje, em grande parte devido à antecipação do mercado ao grau de investimento. Ir contra esse movimento de queda das moedas é pouco racional e significa ter que arcar com uma operação cara, que pode gerar perdas grandes. Por isso, fundos cambiais são mesmo só para quem tem dívidas em euro ou dólar e pretende ser conservador ao investir - avalia Carvalho.

Para ele, uma boa alternativa seria reduzir as aplicações em fundos cambiais e voltar-se para as em renda fixa ou Bolsa.

- É o que muitos clientes têm feito aqui no banco, já que a perspectiva é de que os fundos cambiais continuem a registrar perdas. No lugar do câmbio, eles ganham com os juros altos e com a tendência de valorização da Bolsa - diz.

Cotação do euro dependeda variação do dólar

Fábio Knijnik, analista-sênior do BES Investimento, explica que o dólar deve continuar perdendo valor frente a outras moedas, além do real.

- O pesado déficit em conta corrente dos EUA têm gerado a depreciação do dólar no mundo inteiro. Em paralelo, o superávit em conta corrente na Europa tem valorizado o euro. No Brasil, existe uma correlação entre euro e dólar. Isto é, para chegar-se à cotação do euro em reais, faz-se a conversão da moeda européia para dólares e, depois, de dólares para reais. Como o dólar caiu muito no Brasil, o euro acompanhou esse movimento - explica Knijnik, que estima que o euro fique na casa dos R$2,70 até o fim do ano.

"Ir contra esse movimento de queda das moedas (dólar e euro) é pouco racional e significa ter que arcar com uma operação cara, que pode gerar perdas grandes"

MÁRIO CARVALHO

Diretor de Gestão de Asset Management do banco WestLB