Título: Apoio a Chávez faz surgir nova mídia no país
Autor: Romero, Simon
Fonte: O Globo, 28/05/2007, O Mundo, p. 20

O drama da RCTV: Meios de comunicação favoráveis ao presidente vêem seus lucros crescerem na Venezuela.

Presidente mantém organizações leais por meio de verbas publicitárias.

CARACAS. Enquanto a Venezuela discute o cancelamento da licença de seu canal de televisão mais antigo, popular e crítico em relação ao governo, uma nova elite surge nos meios de comunicação, basicamente constituída por devotos de Hugo Chávez, entre eles ex-oficiais do governo e poderosos magnatas. A nova elite é o oposto daquela que existia quando Chávez assumiu o poder, em 1999. Naquela época, a indústria de notícias era amplamente privada, sendo seus donos hostis ao presidente. Aliados do governo dizem que a velha guarda da mídia tentou denegrir muitas de suas ações:

- Com a polarização da Venezuela, os meios de comunicação têm sido usados para causar mudanças políticas - diz Arturo Sarmiento, dono da rede de televisão TeleCaribe 2006. - Veículos de mídia não devem se envolver em política - completa.

Sarmiento é um dos integrantes da nova e rica mídia favorável a Chávez, e diz que suas ambições para a TeleCaribe, que ele comprou no ano passado, são diferentes: ele quer prover o país de uma programação feita sob medida para as audiências regionais.

A tática de Chávez para conseguir a lealdade destas organizações inclui, por exemplo, a compra de espaços publicitários nos principais meios de comunicação. O governo anuncia 12 vezes mais em jornais favoráveis a ele, segundo Andrés Cañizález, pesquisador da Universidade Andrés Bello, citando um estudo com os quatro principais jornais do país. Nas TVs, o comportamento seria semelhante.

- Administrações anteriores na Venezuela também usaram a compra de anúncios como um meio de consolidar o apoio da mídia - lembra Cañizález. - A diferença agora é que o governo está fortalecendo a própria mídia estatal.

TVs de oposição mudam para apoiar o governo

O cancelamento da concessão da RCTV dividiu o país. Milhares de pessoas marcharam pelo centro de Caracas nos últimos dias para mostrar apoio à RCTV, depois que opositores do grupo picharam muros da rede de televisão Globovisión - única agora, com o fim da RCTV, que faz reportagens críticas ao presidente - com frases pró-Chávez. O presidente acusa a RCTV e outras redes privadas de televisão de terem apoiado o golpe militar de 2002, que o tirou do poder por 48 horas. No caso da RCTV, o governo diz que esta estava de conluio com os conspiradores, não noticiando o golpe quando ele foi retirado do poder, e veiculando desenhos animados quando voltou à Presidência.

Apesar do poder de Chávez, a RCTV manteve sua crítica ao governo. Já as redes nacionais Televen e Venevisión mudaram o tom combativo. Mudanças no código criminal e na nova legislação aumentaram as multas por difamação e a habilidade do governo para intimidar críticos por meio de ação legal. Paralelamente, Chávez vai criando um novo círculo de redes de televisão aliadas. Quando foi eleito pela primeira vez, o governo tinha apenas uma estação de televisão e duas estações de rádio. Hoje são quatro novas redes de televisão controladas pelos governos central e regionais e sete novas transmissoras de rádio.