Título: Renan fala, mas não explica
Autor: Franco, Ilimar e Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 29/05/2007, O País, p. 3

Presidente do Senado não provou que usava recursos próprios para pagar pensão.

O O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não conseguiu fazer a defesa cabal que os demais senadores esperavam, nem provar que usava recursos próprios para pagar pensão alimentícia para a ex-apresentadora de televisão Mônica Veloso. Ele demonstrou que saíram de sua conta corrente os R$3 mil mensais para o pagamento da pensão, de dezembro de 2005, quando reconheceu a paternidade da filha, em diante. Mas permanece sem comprovação a origem dos recursos repassados a Mônica Veloso antes desse período. Ele também não explicou como pagou, em meados de 2006, R$100 mil para um suposto fundo para a educação futura da criança que, segundo a defesa da apresentadora, nunca existiu.

O advogado de Mônica, Pedro Calmon Filho, disse que ela recebia cerca de R$12 mil. Esse valor é a soma da pensão de R$8 mil mais aluguel de R$4 mil. Renan não fez ontem referência ao valor do aluguel, mas admitiu que cobria essa despesa e garantiu que todos os recursos eram seus.

- Honrei essas despesas com recursos próprios. Mostrei as minhas declarações de rendimentos ao Jornal Nacional, e elas demonstram que tenho rendimentos suficientes para arcar com esses R$8 mil mensais. No devido tempo darei novas informações para demonstrar o que falta - declarou ao GLOBO, por intermédio de sua assessoria.

Na lista de documentos que apresentou, não há referência aos R$8 mil pagos até dezembro de 2005, a título de auxílio, a Mônica. Nem ao aluguel custeado pelo senador. Segundo Calmon Filho, até abril de 2005 o aluguel era de R$4.500. Depois caiu para R$4 mil, quando ela se mudou.

Segundo reportagem da revista "Veja", o dinheiro para a apresentadora era entregue pelo lobista da Construtora Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, na sede da empresa em Brasília, com valores em espécie e em um envelope onde estava registrado as letras MV.

Plenário lotado para ouvir discurso

O plenário do Senado lotou para ouvir as explicações de Renan que, ao chegar, foi cercado por senadores do PMDB, recebendo cumprimentos efusivos de José Sarney (PMDB-AP), e dos líderes do PMDB, Valdir Raupp (RO), e do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). Após sentar-se na cadeira de presidente, Renan se queixou do constrangimento de falar publicamente de assuntos pessoais. No decorrer de sua fala, fez questão de chamar a atenção para a presença no plenário de sua mulher, Verônica.

Começou confessando que teve uma relação fora do casamento, que lhe deu uma filha e que pediu a um amigo (Cláudio Gontijo) que intermediasse a ajuda financeira que passou a dar:

- Logo que tive conhecimento da gravidez, impossibilitado de fazê-lo pessoalmente em virtude da circunstância que se impunha, pedi a um amigo que intermediasse meu apoio.

Os presentes, entre os quais dirigentes e líderes do PMDB, ouviram Renan relatar que, com recursos próprios, como frisou, pagou pensão alimentícia de 2004 até hoje.

- Os valores dispendidos são meus. Repito: meus! Nunca misturei o público com o privado, como tentaram insinuar. Os recursos estão todos declarados no meu imposto de renda, bem como a própria pensão alimentícia. Minhas declarações de renda comprovam minhas afirmações, que já são entregues anualmente ao Senado - disse Renan.

Após o discurso, sua assessoria distribuiu um conjunto de documentos, inclusive cópia de Imposto de Renda de 2005 e 2006, onde estão declarados os pagamentos feitos para Mônica. Entre esses documentos não há cópias de Imposto de Renda que comprovem os pagamentos feitos no período que vai de 2004 (gestação da criança) até dezembro de 2005 (reconhecimento da paternidade), no valor de R$12 mil mensais, já incluindo o aluguel do apartamento onde Mônica morava.

Renan também informou que depositou R$100 mil em um fundo para custear a educação da filha e que fez um acordo na última sexta-feira. Mas Mônica negou ontem, por meio de seu advogado, que Renan tenha criado esse fundo. Segundo o advogado Pedro Calmon Filho, esse valor seria, na verdade, referente ao período em que o senador deixou de pagar, a partir de dezembro de 2005, quando reconheceu oficialmente a paternidade.

Segundo Renan, as duas primeiras pensões foram pagas com cheque nominal a Mônica Veloso. O senador apresentou cópias desses dois cheques e o boleto de depósito. Nos meses seguintes, a pensão passou a ser descontada em seu contracheque do Senado.

Segundo Calmon, os R$100 mil atrasados foram pagos em dinheiro vivo. Ele disse que, na audiência de conciliação na Justiça, semana passada, ficou definido uma pensão mensal de R$7 mil.

No pronunciamento, Renan afirmou que Gontijo foi intermediário no pagamento da pensão porque também era amigo de Mônica.

- O fato de (Gontijo) trabalhar para a empresa Mendes Júnior nenhuma relação tem com o assunto. Ele era a pessoa para fazer a interlocução entre as partes, uma vez que também tinha amizade com a mãe da criança.

Jornalista não conhecia lobista

A jornalista disse, por meio de Calmon, que Gontijo não era amigo seu e que ele lhe apresentado por Renan.

O advogado confirmou que Gontijo foi o elo entre Renan e Mônica desde que a jornalista tomou conhecimento da gravidez até dezembro de 2005, quando o senador reconheceu a filha. Calmon disse que essa intermediação seria desnecessária porque o casal, até então, se falava sem problemas.

O presidente do Senado também usou o pronunciamento para defender-se de reportagem publicado em O GLOBO, na qual ele é acusado, em procedimento do Ministério Público de Alagoas, de ter propriedades rurais em nome de laranjas. O senador disse que essa acusação não passa de "uma infâmia provinciana", pela qual já processou um órgão de imprensa de seu estado. Negou também que tenha omitido do Imposto de Renda seu patrimônio e exibiu e distribuiu cópia de seu imposto de 2004, onde está declarada a propriedade da Fazenda Novo Largo. Na declaração, a propriedade, de 117 hectares, foi adquirida de Dimário Cavalcante Calheiros por R$120 mil, sendo pago R$40 mil em dinheiro e R$80 mil com 87 cabeças de gado.

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