Título: CPI: controladores não admitem falhas
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 29/05/2007, O País, p. 8

Sargento ouvido ontem diz que sistema de controle aéreo "induz ao erro".

BRASÍLIA. No primeiro depoimento público, três controladores da Força Aérea Brasileira, responsáveis por monitorar o jato Legacy que se chocou com o avião da Gol e provocou a morte de 154 pessoas no ano passado, não admitiram ter falhado e culparam o sistema de controle aéreo pelo choque. O relator da CPI, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), no entanto, depois da audiência, responsabilizou os controladores, em especial Jomarcelo Fernandes, pelo acidente:

- O sistema tem falhas, mas a causa do acidente foi humana, principalmente de Jomarcelo. Os pilotos do Legacy também contribuíram decisivamente.

No depoimento, Jomarcelo admitiu ter ouvido o piloto do Legacy avisar que a aeronave estava a 37 mil pés, comunicação feita a 40 milhas de Brasília (cerca de cinco minutos). E que não deu qualquer ordem para que, a partir de Brasília, a aeronave seguisse a 36 mil pés. Segundo Jomarcelo, o software do sistema de controle de vôo atualizou sozinho a nova rota que o Legacy deveria pegar ( 36 mil pés) e ele foi induzido ao erro:

- A informação que eu tinha era de que ele (Legacy) estava a 360 ( 36 mil pés). Confiei no sistema. Se for fazer isso (perguntar ao piloto em que rota está voando) de minuto a minuto, fica congestionado.

Na última sexta-feira, o Ministério Público Federal de Cuiabá denunciou quatro controladores pelo acidente, entre eles Jomarcelo. Além de Jomarcelo, os sargentos Lucivando Alencar e Leandro Santos (ambos de Brasília), que substituíram Jomarcelo no controle do Legacy no dia do acidente, prestaram depoimento ontem. Foi ouvido ainda o controlador de Manaus, Francisco Agostinho Freire.

Dois controladores supervisores de Brasília, responsáveis por monitorar o trabalho dos três controladores denunciados, foram ouvidos pelos senadores em sessão secreta.

Jomarcelo disse que, no momento em que monitorava o Legacy, acompanhava outras quatro aeronaves. O controlador negou que tenha cometido erros, que não tenha compreendido o que o piloto falou por não dominar bem o inglês ou que tenha dado pouca atenção à situação do Legacy. Quando Demóstenes indagou se ele considerava o sistema de controle eficiente e se havia sobrecarga de trabalho, desabafou:

- O sistema é falho, há sobrecarga de trabalho. Não confio no sistema, e por isso o controlador deve estar sempre à frente. O sistema induz ao erro, é falho, pisca, duplica aviões.

Os outros três controladores criticaram o sistema.

- Esse setor é deficiente (nas transmissões de radar e rádio) há muito tempo - disse Lucivando Alencar, que justificou porque não acionou o sistema de emergência quando perdeu o contato com a aeronave:

- A informação é que ele estava a 360 (36 mil pés). Não tinha porque tomar atitude de emergência.

A CPI ouviu ontem o comandante do Cindacta 1 de Brasília, coronel-aviador Eduardo dos Santos Raulino.