Título: Entidades pedem reforço para educação sexual
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 29/05/2007, O País, p. 9

ONGs consideram medidas paliativas e defendem atenção às regiões mais pobres.

SÃO PAULO. Organizações feministas avaliaram como positivo o lançamento do programa de planejamento familiar pelo governo federal, que inclui aumento da oferta de anticoncepcionais e redução no preço, mas fizeram críticas às políticas de saúde da mulher - em especial à falta de universalização da educação sexual nas escolas.

Algumas ativistas consideraram que as medidas anunciadas ainda são paliativas, principalmente diante da realidade das regiões mais pobres do país.

- Foi uma medida muito importante porque, de fato, o planejamento familiar ainda não está disponível para quem mais precisa dele. Mas também acho que falta muita coisa, como a introdução da educação sexual em todas as escolas ou mesmo fazer chegar a contracepção de emergência (as pílulas do dia seguinte) em todas as cidades - afirmou Dulce Xavier, uma das coordenadoras da ONG Católicas pelo Direito de Decidir.

Campanhas teriam que chegar a grotões, diz ativista

Moradora de Mossoró, no Rio Grande do Norte e uma das líderes nacionais da Marcha Mundial das Mulheres, Conceição Dantas considerou que as campanhas de esclarecimento anunciadas pelo Ministério da Saúde teriam que ser focadas também nos grotões do país, onde o preconceito é muito grande e as mulheres ainda sentem vergonha de ir a um centro de saúde para uma consulta com um ginecologista e ficarem "mal faladas".

- Teriam que implantar políticas para recepcionar essas mulheres do Norte e Nordeste, onde há mais preconceito. Além disso, nessas regiões a distribuição de camisinhas não é farta. O acesso aos contraceptivos também é irregular, principalmente nos assentamentos. A mulher recebe a pílula em um mês e no outro não. Assim, os medicamentos fazem até mal à saúde, além de não inibir a gravidez- reclama Conceição, que também dirige o Centro Feminista 8 de Março, em Mossoró.

Para ONG, redução dos preços é insuficiente

A Sempre Viva Organização Feminista considerou paliativa a redução dos preços de contraceptivos nas farmácias populares. Segundo o programa, a cartela poderá custar até R$0,40.

- O que queremos é serviço público e gratuito. Evidente que esse programa avança na direção certa, mas é preciso garantir serviços públicos e totalmente gratuitos, além de investir mais nas camisinhas, método que protege mais a saúde, tanto da mulher quanto do homem. Alguns métodos, como a vasectomia ou laqueadura deixam a sensação na mulher de que ela está liberada de ter que se proteger. Mas pode ficar mais exposta às doenças sexualmente transmissíveis - afirmou Nalu Faria, coordenadora da ONG Sempre Viva.

Programa pode ampliar discussão sobre aborto

As feministas consideram ainda que o programa lançado pelo governo foi positivo para a polêmica da descriminalização ou não do aborto. Segundo elas, a decisão veio em um momento propício para ampliar a discussão.

- Nós achamos que tudo isso passa pelo direito da mulher de decidir por ter ou não filhos. Então, para nós, é muito importante estar na pauta, neste momento de efervescência pela liberação ou não do aborto. Pelo menos as pessoas passam a discutir e se informar mais sobre o assunto - afirmou Conceição Dantas.