Título: Governo amplia verbas para incentivar vasectomia
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 29/05/2007, O País, p. 9

Ao lançar pacote de incentivo ao planejamento familiar, ministro da Saúde defende engajamento dos homens.

SÃO PAULO. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, defendeu ontem que os homens se envolvam no controle da natalidade. Na tentativa de reforçar o programa de planejamento familiar, o Ministério da Saúde anunciou que aumentará de R$20 para R$123 o repasse aos médicos que realizam cirurgias de vasectomia. Os investimentos no programa, anunciados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, serão de R$130 milhões, com distribuição de contraceptivos, campanha educativa e assistência em maternidades.

- O homem precisa ter consciência de sua responsabilidade com o planejamento familiar e deixar de lado o medo de fazer vasectomia. O procedimento dura 15 minutos e no mesmo dia ele já volta para casa - disse Temporão, ao lado do presidente, em cerimônia pelo Dia Nacional da Redução da Mortalidade Materna.

Nos folhetos que começaram a ser distribuídos ontem, a cirurgia de vasectomia aparece como uma das opções para o planejamento familiar. Com um alerta: "A vasectomia é uma pequena cirurgia que não necessita de internação e não promove a impotência masculina. Deve ser feita pelo homem que tem certeza de que não deseja mais ter filhos, de forma voluntária".

O assunto causou embaraço ao próprio presidente Lula, quando indagado publicamente pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), se já fizera tal procedimento.

- Essa é uma questão de foro íntimo, segredo de Estado - disse Lula, rindo, antes de discursar na abertura da VI Plenária da Comissão Nacional de Monitoramento e Avaliação da Implementação do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, na Escola Paulista de Medicina, onde o governo lançou o pacote.

O governo apresentou números alarmantes de mortalidade materna e neonatal. Em 2005, cerca de 2,1 mil mulheres morreram no parto. No mesmo período, foram 32 mil bebês mortos nos primeiros 28 dias de vida. Além de reduzir em 90% o preço dos anticoncepcionais (a cartela poderá ser comprada por R$0,40 nas farmácias populares), aumentou a oferta gratuita de contraceptivos em postos de saúde, passando de 20 milhões para 50 milhões de cartelas/ano de pílulas combinadas e de 1,2 milhão para 4,3 milhões de ampolas injetáveis.

Temporão ainda rebateu posicionamento da Igreja Católica, contrária ao programa que prega métodos anticoncepcionais como saída para o planejamento familiar. Para alguns bispos, o governo ainda estaria trabalhando pelo interesse de grandes laboratórios.

- Que interesse o governo tem em vender cartela de anticoncepcionais a R$0,40? - indagou Temporão.