Título: Ordem na Barra e na Lapa
Autor: Schmidt, Selma
Fonte: O Globo, 29/05/2007, Rio, p. 12

Força-tarefa fará mapeamento para combater problemas como prostituição e drogas.

Depois de Copacabana, a Barra da Tijuca e a Lapa devem ser os próximos alvos da força-tarefa de choque de ordem, integrada por equipes do governo do estado e da prefeitura. O delegado Marcos de Castro informou ontem que policiais do setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública começam, esta semana, a fazer um levantamento dos principais problemas dos dois bairros. Coordenador da força-tarefa, o subsecretário estadual de Governo, Rodrigo Bethlem, garantiu que a ampliação do trabalho não significará o encerramento da operação em Copacabana, denominada CopaBacana.

¿ Não vamos abrir mão de Copacabana. Não adianta cobrir um santo e descobrir outro. Queremos chegar a um nível satisfatório e montar um grupo para manutenção da ordem em Copacabana. Estamos conversando com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) para buscar uma parceria ¿ disse o secretário.

Munidos de câmeras e filmadoras, os investigadores vão para as ruas, a partir de amanhã, a fim de mapear a Barra e a Lapa. O delegado Marcos de Castro, no entanto, já adiantou que a prostituição na orla da Barra e o consumo e a venda de drogas nas calçadas da Lapa estão entre os principais problemas desses bairros:

¿ Na Lapa, a venda de bebidas nas ruas é mais uma questão grave.

Líderes da área citam problemas

Não há uma data para serem deflagradas as operações da força-tarefa na Barra e na Lapa, que dependem de entendimentos com a prefeitura e com líderes comunitários e comerciais, além de equipamentos e pessoal. Mas Rodrigo Bethlem considera fundamental atuar nessas regiões:

¿ A Barra estará recebendo o Pan daqui a menos de 50 dias. Já na Lapa, vivemos o renascimento da boemia. O poder público precisa fazer a sua parte.

Antes mesmo de o mapeamento ser feito, representantes de moradores e comerciantes chamam a atenção para os problemas de seus bairros. Segundo o presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, vans em situação irregular e ônibus piratas param nos pontos e no meio das ruas, provocando acidentes. Delair citou ainda os flanelinhas e as filas duplas e triplas de carros na orla durante o verão. Ele lembrou também os meninos que pedem esmolas nos sinais de trânsito e a prostituição:

¿ Da Avenida do Pepê até o trecho da Avenida Lúcio Costa em frente à Praça do Ó, há mais travestis. Dali em diante até o Alfabarra, existem mais prostitutas. O grave é que, com o cerco em Copacabana, travestis e prostitutas estão migrando para a Barra.

Eric Pereira, presidente da Associação de Moradores do Jardim Oceânico e TijucaMar, acrescenta que, a partir das 19h, a prostituição já está se estendendo para a Rua Érico Veríssimo e para a Praça do Ó.

O delegado da 16ª DP (Barra), Carlos Augusto Nogueira Pinto, reconhece que há uma grande quantidade de prostitutas na área. No entanto, como prostituição não é crime, ele diz não ter muito o que fazer:

¿ Eu não posso chegar para elas e dizer que saiam do local, porque elas têm o direito de ir e vir. Prostituição é moralmente condenável, mas não é crime ¿ disse o delegado.

Além das prostitutas, os mendigos são mais um motivo de dor de cabeça para os moradores da área. Os pedintes se concentram nas avenidas Olegário Maciel e Érico Veríssimo, embaixo do viaduto nas proximidades do shopping Downtown e nas proximidades da Igreja São Francisco de Paula.

¿ São cerca de 60 mendigos, que dormem debaixo de marquises. Infelizmente, nos fazem passar por cenas deploráveis, constrangedoras ¿ disse Eric.

A invasão de calçadas da Avenida Olegário Maciel por mesas e cadeiras de estabelecimentos comerciais é outro problema lembrado por ele:

¿ Além disso, ao longo da Olegário Maciel, há muitos camelôs, inclusive vendendo mercadoria contrabandeada. As pessoas são obrigadas a andar no meio da rua por causa de camelôs, mesas e cadeiras. O que falta é fiscalização.

Segundo José Maria Herdy de Barros, diretor da Associação Comercial e Industrial da Barra, a desordem urbana tomou conta do bairro:

¿ A Barra está se copacabanizando, por falta de presença da autoridade ¿ disse José Maria, que defende ainda a necessidade de se pôr um freio nas construções ilegais.

Já a produtora Maria Juçá, diretora do Circo Voador, lembra que a Lapa é o hoje o principal pólo de cultura do Rio e, portanto, precisa ser olhada com atenção pelas autoridades:

¿ Uma ação conjunta de urbanização e policiamento contribuiria para reduzir a delinqüência na Lapa. A iluminação deficiente, por exemplo, tem facilitado os muitos assaltos nas ruas. Uma melhor iluminação, certamente, também inibiria o consumo e a venda de drogas no asfalto.

COLABOROU Maria Elisa Alves