Título: A vez dos pequenos
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 29/05/2007, Economia, p. 19

Bancos aumentam em mais de 40% oferta de crédito a empresas de menor porte.

Amaior estabilidade da economia, a contínua queda dos juros e o apetite de estrangeiros pelo mercado brasileiro estão levando os bancos a emprestarem mais para pequenas e médias empresas. No primeiro trimestre deste ano, a concessão de crédito para pequenas e médias empresas cresceu mais de 40%, segundo levantamento feito pelo departamento econômico do Bradesco no balanço dos maiores bancos privados do país. Foi uma alta maior do que a registrada nos financiamentos para pessoas físicas (31,66%) e para grandes empresas (12,29%).

Nos últimos meses, as firmas de maior porte têm optado por formas mais baratas de financiamento do que o crédito bancário, como o lançamento de ações em bolsa ou a captação de recursos via debêntures, que encontram boa recepção entre investidores domésticos e estrangeiros. Resta aos bancos, então, voltarem-se para as pequenas e médias empresas como uma estratégia para ampliar a carteira de crédito.

Os números do BNDES confirmam essa tendência. Entre janeiro e abril, os empréstimos via cartão BNDES - espécie de crédito pré-aprovado com recursos do banco de fomento repassados por Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco - cresceram 138% frente ao mesmo período do ano passado, alcançando R$129,7 milhões. A previsão é fechar o ano com R$450 milhões em operações pelo cartão, que atende a empresas com faturamento anual de até R$60 milhões.

Maior concorrência diminui juros

Nas demais linhas de financiamento do BNDES para pequenas e médias empresas, os desembolsos alcançaram R$4,245 bilhões este ano, uma alta de 25%.

- Com a economia mais estável, os bancos terão que se especializar cada vez mais em crédito. E as pequenas e médias empresas são o segmento mais desassistido. A concorrência está aumentando, e percebemos uma queda nos spreads (diferença entre o custo de captação do banco e as taxas cobradas dos clientes) - afirma o superintendente da Área de Operações Indiretas do BNDES, Cláudio Bernardo de Moraes.

No Bradesco, o crédito a pequenas e médias empresas já responde por R$29,8 bilhões, ou quase 30% da carteira total do banco, hoje em R$101 bilhões. E cresce a passos mais largos que os demais financiamentos. Nos últimos 12 meses, a expansão foi de 27,5%, enquanto o crédito a grandes empresas aumentou 18,6%.

- Não podemos esquecer que as grandes empresas passaram a ter outro fornecedor de crédito, que é o mercado de capitais (lançamento de ações ou debêntures). Então, sobram recursos para pequenas e médias, que acabam se beneficiando de um custo mais baixo - afirma Ademir Cossiello, diretor-executivo do Bradesco. - Hoje, nas linhas do BNDES, já conseguimos oferecer crédito com taxa de 1,03% ao mês e prazo de três anos. A queda dos juros básicos e a economia estável permitem operar nessa faixa de remuneração.

Bancos lançam novos produtos

A rede Beleza Natural, de salões de cabeleireiros especializados em cabelos crespos e ondulados, prepara-se para tomar seu primeiro empréstimo em banco. Antes, só havia feito leasing para a compra de equipamentos. Agora, a rede vai pegar um crédito R$1 milhão, com taxa inferior a 1% ao mês, para investir na inauguração de uma loja em Ipanema, a primeira filial do grupo na Zona Sul do Rio.

A nova loja vai abrir inicialmente 85 vagas e a previsão é que, em dois anos, esteja empregando 120 pessoas. A rede tem hoje 670 funcionários nas suas seis filiais e deve faturar R$53 milhões este ano.

- A queda dos juros nos ajuda a conseguir um retorno mais rápido do investimento. Acredito que, em 19 meses, teremos pago o empréstimo - prevê Anthony Talbot, diretor-geral do Instituto Beleza Natural. - É sempre melhor crescer com recursos próprios. Mas a expansão da empresa foi de 50% ao ano nos últimos três anos. Para continuar nesse ritmo, precisamos de financiamento.

O diretor financeiro do grupo de restaurantes Spoleto, Paulo Corrêa, também vê um ambiente econômico mais favorável à tomada de empréstimos. Ele lembra que financiamentos a juros com taxa CDI (hoje em 12,3% ao ano) mais 5% anuais, antes oferecidos apenas a grandes empresas, agora estão disponíveis também para pequenas e médias.

A rede está recorrendo a financiamentos, com recursos do BNDES, para abrir uma loja em Ipanema e outra na Alameda Santos, em São Paulo. Há pouco tempo, quando implantou sua nova linha de pratos assados, fez um leasing de R$20 mil por loja, ou R$200 mil no total, para a compra de fornos. Cada franquia da rede Spoleto fatura em média R$1 milhão por ano.

- O mercado está mais agressivo. A concorrência nos bancos cresceu e, com isso, conseguimos empréstimos mais baratos - diz Corrêa.

Os bancos, por sua vez, esforçam-se para oferecer produtos mais atraentes. O Santander-Banespa criou uma área específica para atender a pequenas e médias empresas, com faturamento até R$20 milhões anuais. A carteira de crédito para o setor cresceu 56% no primeiro trimestre.

- Com a estabilização da economia, é um mercado mais bacana para ganhar dinheiro - diz a superintendente de produtos do segmento Business do Santander, Cristiane Nogueira. - O pequeno empresário tem demandas específicas. Criamos produtos que tiveram muita aceitação, como capital de giro com recebíveis de cartão de crédito.

No Itaú, o financiamento ao setor cresceu 77,6% no primeiro trimestre, contra uma expansão de apenas 7,2% no crédito a grandes empresas.