Título: Controlador de vôo busca no Congresso apoio à desmilitarização da carreira
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 29/05/2007, Economia, p. 22

Sem espaço no Executivo, categoria quer que deputados apresentem lei.

BRASÍLIA. Cerca de dois meses depois da paralisação dos controladores de vôo, os sargentos mudaram a estratégia: em vez do confronto, optaram pela articulação política. Sem diálogo com o Executivo, representantes da categoria iniciaram um corpo-a-corpo com os parlamentares no Congresso para conquistar apoio à desmilitarização do serviço, principal pleito da classe, engavetado pelo governo.

Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Controladores de Vôo (ABCTA), Wellington Rodrigues, o objetivo é convencer deputados a apresentarem um projeto de lei para tirar das mãos dos militares o controle do tráfego aéreo.

- Temos retorno de vários parlamentares, tanto governistas quanto da oposição, que estão interessados em apresentar uma proposta nesse sentido - disse Rodrigues.

Segundo ele, a idéia é aproveitar as duas CPIs do Apagão Aéreo para obter apoio dos deputados e senadores. Durante as audiências, Rodrigues tem defendido a desmilitarização e alertado sobre os problemas nos radares, como duplicação de pistas.

A entidade distribuirá mil cartilhas no Congresso e nos aeroportos, aos usuários, explicando a importância da medida. O texto, ao qual o GLOBO teve acesso, contesta o argumento da Força Aérea de que repassar o comando para os civis terá um alto custo, pois seria preciso duplicar o sistema atual.

A alegação da Aeronáutica de que o sistema é integrado também é questionada pelos controladores na cartilha. Eles afirmam que as salas de controle são separadas e que o treinamento dado aos militares que cuidam da defesa aérea e do tráfego de aviões civis é totalmente distinto. "São salas distintas, equipamentos distintos e treinamento distinto. Atualmente, já existe a separação de funções e equipamentos", diz o texto.

Cartilha diz que falta transparência à atividade

Um dos principais argumentos à favor da desmilitarização é a transparência na atividade de controle do espaço aéreo. A Aeronáutica, diz a cartilha, é o órgão responsável por contratações, gerenciamento, fiscalização e punição. "Não há transparência nas ações".

No documento, eles alegam que querem simplesmente ter um comando civil, propõem a criação de uma agência, vinculada ao Ministério da Defesa, e um prazo de transição para a mudança. Também é sugerida a criação de uma carreira de nível superior, que absorveria todas as especialidades ligadas à proteção ao vôo, como técnicos em eletrônica e meteorologista.

Para Rodrigues, as mudanças prometidas na estrutura de carreira pelo comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, não vão acalmar os profissionais:

- Os controladores não se sentem mais parte da FAB. A saída é a desmilitarização.